António Eduardo Lobo Vilela

António Eduardo Lobo Vilela foi um dos maiores vultos do movimento espírita português, vivendo numa altura em que a liberdade de consciência e de associação eram interditas. Natural de Vila Viçosa, nasceu em 25 de Fevereiro de 1902, partindo para a espiritualidade, em Lisboa, no dia 25 de Março de 1966, contando 64 anos de idade. Nascido em lar religioso, mas sem afetação, foi educado segundo os princípios duma austera moral, embora mais laica do que religiosa. Nunca foi católico praticante embora houvesse sido batizado.

Muito cedo se revelou a sua extraordinária sensibilidade, bem como o seu gosto para reflexionar sobre os porquês das desigualdades do ser humano. Por sua vez, a educação científica que adquiriu afastou-o cada vez mais do vago sentimento religioso de seus verdes anos, embora nunca o houvesse extinguido. Em alguns momentos de efusão espiritual, esse sentimento emergia das profundezas do seu inconsciente transbordando na consciência sob a forma duma ansiedade metafísica, duma angústia transcendente.

Muito novo, a contradição entre a existência do mal e a existência de Deus pareceu-lhe uma situação insolúvel, sem a negação de um dos termos. E porque a negação de Deus representasse para o dr. Lobo Vilela a negação de toda a esperança, entrou numa fase de pessimismo.

Desejando ardentemente uma solução para os problemas que o torturavam, explorou os diversos caminhos que a filosofia indica, tendo feito as mais diversificadas leituras. Não se pode dizer que se havia tornado ateu, mas também não era crente, talvez agnóstico.

Mais tarde, no ano de 1921, quando frequentava a Universidade de Coimbra, em tertúlia de amigos falou-se certa vez de Espiritismo, assunto de que só tinha ouvido descrições de brincadeiras com as mesas girantes, e às quais sempre havia sido indiferente. Apesar disso, acabou por ser tocado por uma certa curiosidade e, em conjunto com outros colegas, resolveu fazer uma experiência.

As habituais objeções de fraude, de magnetismo, dos movimentos musculares inconscientes e imperceptíveis, do subconsciente e da telepatia tinham sido abordados, e porque animados de um desejo sério de investigação assumiram o compromisso de não fraudar, nem por simples brincadeira. Ficaram perplexos com os resultados obtidos e confirmados após criteriosa racionalização e verificação dos dados fornecidos por meio da experiência realizada e que, devido às evidências, os levou de imediato a pôr de parte a hipótese do subconsciente ou da telepatia e veio confirmar com total clareza sua origem supranormal, pois havia sido evidente a manifestação de uma inteligência que em nada se podia identificar com os presentes na experiência. Esta marcou-o profundamente, levando-o de novo à leitura, desta vez a excelente obra de Maeterlink, “A Morte”, que o impressionou muito.

Mas as experiências de regressão de memória realizadas por Albert de Rochas e a teoria das vidas sucessivas voltaram a trazer ao seu espírito jovem uma grande confusão, levando-o de novo a abandonar estes assuntos. Mais tarde, depois do seu regresso a Lisboa, deparou-se-lhe a oportunidade de trocar impressões sobre os fenômenos espíritas com o dr. António Joaquim Freire, médico que há algum tempo se havia interessado por esses assuntos.

A amizade e estima do dr. António Joaquim Freire estimulou o interesse pelo estudo destes fenômenos, levando-o de novo à leitura de variada bibliografia publicada. Iniciou o seu estudo por obras de autores metapsiquistas, alheios à problemática da teoria espírita, que descreviam inúmeros fatos cuja autenticidade inspirava confiança e que tentava interpretar pelas mais variadas teorias. Embora estas obras se coadunassem com o seu espírito, verificou que as hipóteses formuladas tinham um cunho tão artificial e insubsistente que acabou por aceitar as explicações espíritas. Dedicou-se então à leitura das obras de Léon Denis, Allan Kardec, Ernesto Bozzano e Gabriel Delanne e verificou que a teoria das vidas sucessivas, que inicialmente achara tão extravagante, ligado como estava às teorias da biologia materialista, era um princípio fundamental que fornecia a solução para inúmeros problemas morais e sociais.

A sua convicção espírita não adveio da observação dos fenômenos mas sim das conclusões a que chegou pela via racional, inspirando-lhe ainda mais confiança pela maneira como se formou, de forma oposta a ideias preconcebidas, fruto de reflexão sistematizada que foi gradualmente construindo o sistema da sua crença na doutrina espírita.

O seu interesse pelo Espiritismo cresceu firmado em convicções sólidas e racionais assentes no estudo e pesquisa a que se dedicou.

O dr. Lobo Vilela foi um ardoroso defensor da doutrina espírita, poderemos mesmo dizer que, na sua época, foi um dos grandes investigadores da ciência do espírito. Recordando-o lembramos as grandiosas lições que nos legou, as suas magistrais conferências que foram muitas e excelentes, quer as que proferiu na Federação Espírita Portuguesa, da qual chegou a fazer parte dos corpos diretivos como 2º secretário na Sociedade Portuense de Investigações Psíquicas, onde a sua palavra clara, serena, ponderada, convincente e sempre bem medida, dava a quem o escutava a certeza de estar em presença de um homem de espírito lúcido e de nobre cultura, mas que, simultaneamente, revelava uma inexcedível bondade, refletindo uma alma já burilada.

A sua crença na espiritualidade, firmemente fundamentada, era explanada com magistral sapiência, fazendo a sua argumentação realçar a insensatez dos cientistas contestatórios, visando, em simultâneo, levar os presentes a aceitar a crença na sobrevivência espiritual.

O Espiritismo ficou a dever ao dr. António Lobo Vilela o agradecimento da publicação de suas diversas obras que aqui ficam referidas: O Infinitismo, Hipóteses Metapsíquicas, O Destino Humano, O Problema da Sobrevivência, O Poder Mental, Problemática do Homem, Morte é Vida, Palingénese, Do Sentido Cármico e Trágico da Vida, e ainda a rica colaboração prestada como articulista em variados periódicos portugueses, entre os quais referimos a revista “Além”, “Revista de Espiritismo” e “Revista de Metapsicologia”.

Mas não pensemos que foi só no Espiritismo que o dr. António Lobo Vilela deixou espólio valioso. Senão vejamos: engenheiro-geógrafo formado pela Universidade de Coimbra, mais tarde licenciado em Matemática pela Universidade do Porto, com o Curso de Ciências Pedagógicas da Universidade de Coimbra, fez exame de Estado no Liceu Normal de Coimbra. Publicou diversas obras: O Ensino das Matemáticas Elementares, A Crise da Universidade, A Universidade Falou, A Didática da Matemática, Métodos da Matemática, Métodos Geométricos, Questões Pedagógicas. Como idealista, dentro de uma visão política, publicou: Ao Serviço da Democracia, Linha Geral, Democracia, Ciência e Poesia, Nação e Trono, Perspectivas. Traduziu mais de vinte livros para o português, entre os quais um de Darwin intitulado “A Seleção Artificial”.

A Associação Espírita de Leiria editou recentemente a terceira edição da obra “O Poder Mental”, com autorização de Federação Espírita Portuguesa, a sua primeira editora, antes que Salazar destruísse toda a estrutura do movimento espírita português, como se sabe que veio a acontecer.

Fonte - http://www.autoresespiritasclassicos.com/Biografias%20Espiritas/A/Biografias



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