Desertores - Arlene Paes Dias

De acordo com a definição encontrada nos dicionários, desertor é aquele que abandona suas convicções, sua religião, seu compromisso ou a causa de que era defensor.

Desistir de algo pode acontecer em qualquer fase da vida do homem e essa atitude pode ser provocada por motivos considerados fúteis por alguns, mas que no momento em que ocorrem desequilibram aquele que o enfrenta,

Emmanuel, estimado benfeitor espiritual, assevera que desertor é aquele que desiste de praticar o bem. Diz textualmente: “Por onde transites, na Terra, transportando o vaso de tua fé a derramar-se em boas obras, encontrarás sempre impedimentos a granel, dificultando-te a ação.” ¹

O corre-corre do dia a dia, o desencanto provocado por violências e injustiças, a dor do próximo, por exemplo, que chegam tão rápido à nossa vida por conta das redes sociais, podem provocar uma sensação de impotência ante tais acontecimentos. Que fazer, então, quando isso acontece? Paulo de Tarso, na Carta aos Hebreus, capítulo 12, versículo 21, responde categórico: “Ponde de lado todo o impedimento (...) corramos com perseverança a carreira que nos está proposta.”

Todos nós, encarnados, fomos premiados com a bênção da nova existência, dotados de inteligência e livre-arbítrio exatamente para enfrentar todos os obstáculos que ocorrem na nossa caminhada e, assim agindo, evoluir.  O espírita sabe ou deveria saber que diante da Lei de Deus nada fica impune, pois se fugirmos de uma situação que temos de enfrentar, sofreremos as consequências de nossos atos, nesta ou em próxima encarnação.

É natural, portanto, que aquele que deseja avançar no roteiro do bem sofra assédio constante: “A lama da inveja e do despeito. As trovoadas da incompreensão. Os granizos da maldade. Os detritos da calúnia. A canícula da irresponsabilidade. O frio da indiferença. A secura do desentendimento. O escalracho de preocupações. A poeira do desencanto.” ²

E o que nos pode fortalecer para enfrentarmos essas situações? A fé no futuro, a certeza de que nosso espírito imortal terá tantas oportunidades para superar esses acontecimentos, quantas forem necessárias. E mais uma vez, o apóstolo dos gentios nos convoca a vencermos o cansaço provocado pela caminhada: “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados.” (Hebreus, 12:12.), assim como corrobora  Emmanuel: “Enquanto não alcançarmos a herança divina a que somos destinados, qualquer descida é sempre fácil. A elevação, porém, é obra de suor, persistência e sacrifício.”²

Judiciosamente, Kardec diz que as fraquezas humanas como o orgulho e o egoísmo nos levam a fraquejar diante de uma decepção, mas que os adeptos convictos, aqueles que vigiam, oram, estudam e praticam os ensinos de Jesus, não desistem de suas lutas.

Em relação à mediunidade, médiuns desertores não são apenas os que deixam de transmitir as mensagens do mundo espiritual. São todos os que deixam de praticar a caridade no dia a dia: não dividem o pão; pregam virtudes que não praticam; não se comprometem com o aprendizado dos ensinos de Jesus; não se preocupam em se livrar de suas imperfeições; gastam seu tempo criticando atitudes dos outros; não sentem necessidade de trabalhar. E tantos outros comportamentos incompatíveis com os ensinamentos de Jesus.

No capítulo 11 do livro Emmanuel, nosso benfeitor diz que os médiuns “são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram sobremaneira o curso das leis divinas e que resgatam, sob peso de severos compromissos e limitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso.”³

Os médiuns receberam a mediunidade para redimir-se de suas imperfeições do passado. Realizando suas tarefas amorosamente, com regularidade e perseverança, estarão sob a proteção de benfeitores espirituais. Descuidando-se de suas obrigações, poderão perder o amparo da espiritualidade.

“Deserção! Deserção!... Se trazemos semelhante chaga, corrigenda para nós!... E se a vemos nos outros, compaixão para eles!...”4 

Todos estamos sujeitos à deserção, cabendo a cada um de nós fortalecer a nossa fé e perseverar na prática do bem, sejamos médiuns ou não. Somente assim estaremos abertos à proteção dos bons espíritos.

Como afirma o benfeitor espiritual André Luiz: “A fé viva não é patrimônio transferível. É conquista pessoal. A fortaleza moral não é produto de rogos alheios. Provém do nosso esforço na resistência para o bem. A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos movimentamos na sombra. Ai de nós, todavia, se não procuramos as bênçãos da luz...” 5


Bibliografia:

1. XAVIER, F. C. Fonte Viva, ditado pelo Espírito Emmanuel. 35ª ed.- Rio de Janeiro. Federação Espírita Brasileira, 2006. Lição 12.

2. Idem, Lição 52.

3. XAVIER, F. C. Emmanuel, ditado pelo Espírito Emmanuel - Dissertações mediúnicas sobre importantes questões que preocupam a humanidade: ciência, religião, filosofia – 22ª. ed.- Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 2003, cap. 11

4. XAVIER, F. C. Seara dos Médiuns, ditado pelo Espírito Emmanuel – 16ª ed. – Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira. Lição 34.

5. XAVIER, F. C. Agenda Cristã, ditado pelo Espírito André Luiz – 37ª ed. – Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 2001. Lição 43.



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