Henrique Maximiano Coelho Neto

Coelho Neto, com é mais conhecido no meio literário, nasceu em Caxias, Maranhão, no dia 21 de fevereiro de 1864, filho do português António da Fonseca Coelho com a indígena Ana Silvestre Coelho, que se mudaram do Maranhão para o Rio de Janeiro quando o filho contava apenas seis anos de idade.

Estudou no Colégio Pedro II, onde realizou os cursos preparatórios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em 1883 na Faculdade de Direito de São Paulo. No curso jurídico Coelho Neto, após envolver-se em um movimento de alunos contra um professor, para evitar represálias, transferiu-se para a faculdade do Recife, onde teve como principal mestre Tobias Barreto. Após breve lapso, retornou para São Paulo, onde participou de movimentos abolicionistas e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso.

Sem se formar, retornou em 1885 para o Rio, onde, ao lado de escritores como Olavo Bilac, Luís Murat, Guimarães Passos e Paula Ney, formou um grupo cujas experiências retratou no romance A Conquista, de 1899. Ativo na campanha pela extinção da escravatura, aliou-se a José do Patrocínio. Nessa mesma época, passou a colaborar com o jornal Gazeta da Tarde e, depois, com A Cidade do Rio, de que foi secretário, ocasião em que iniciou a publicação de seus textos literários.

Romancista, contista, crítico, teatrólogo, poeta, jornalista, escreveu mais de 100 livros e cerca de 650 contos, sendo proclamado, em votação aberta ao público promovida pela revista “O Mello”, o príncipe dos prosadores brasileiros. Foi fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 2.

Casou-se em 1890 com Maria Gabriela Brandão, filha do professor Alberto Olympio Brandão, com quem teve catorze filhos. Nesse mesmo ano foi nomeado secretário de governo do estado e em 1891 ocupou a direção de Negócios do Estado. Em 1892 foi nomeado para lecionar História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes; depois, lecionou Literatura no Colégio Pedro II. Nomeado em 1910 para as cátedras de História do Teatro e Literatura Dramática na Escola de Arte Dramática do Rio, tornou-se depois diretor da mesma escola.

Esposo exemplar e pai extremoso, foi avô de Ester, filha de Júlia, que, seis meses depois de ficar viúva, passou pela triste prova de sepultar a filha. Com a desencarnação de Ester, a alegria abandonou a casa e Júlia tornou-se a imagem mesma da tristeza, a ponto de todas as manhãs ir ao cemitério e lá ficar horas e horas. De volta, presa ao quarto, nada mais fazia além de arrumar as roupas e coisinhas da filha morta, que arrumava para depois desarrumar, entrando numa depressão superlativa, que deixou Coelho Neto e esposa muito preocupados.

Nessa ocasião, alguém, muito a medo, sugeriu procurassem um centro espírita. Coelho Neto opôs-se peremptoriamente, eis que não raras vezes havia-se manifestado contra tais práticas, que ele considerava supersticiosas.

Um dia, pela manhã, Coelho Neto notou um brilho diferente nos olhos da filha. Mas sua alegria durou pouco. Uma noite, sua mulher entrou chorando em seu escritório e disse-lhe à queima-roupa:

- Nossa filha ficou louca. Ela pensa que fala com nossa Ester.

- Como?

- Pelo telefone. Foi ela mesma quem contou. Venha. Veja por si mesmo. Ela está agora ao telefone.

Coelho Neto e a mulher dirigiram-se então até a escada. Embora não alcançassem as palavras, puderam ouvir a voz da filha que, no telefone localizado no hall do primeiro pavimento da casa, falava baixinho, quase sussurrando, rindo feliz.

Coelho Neto, entre suas inúmeras virtudes, era discreto. Não se permitia invadir a privacidade da filha. Mas, que fazer? Era a sanidade mental dela que estava em jogo. Ele hesitou por instantes, mas resolveu pegar a extensão da linha telefônica. E ouviu! Como outrora, nos dias felizes, ouviu sua filha Júlia conversando com sua neta Ester. As duas falavam, riam, trocavam palavras carinhosas, faziam juras de amor.

Coelho Neto revelou mais tarde que teve ímpetos de violar o segredo da filha, mas o escrúpulo de seu cavalheirismo conteve-o.

– Por que dizes que ela fala com Ester? - perguntou à esposa.

– Por quê? Porque ela mesmo me confessou e não imaginas com que alegria!

Ele ficou estatelado, sem compreender o que ouvia. Então, de repente, entrou no escritório, retirou lentamente o fone do aparelho e ouviu a neta, como ele próprio mais tarde assim o revelou:

“Ouvi, meu amigo. Ouvi minha neta. Reconheci-lhe a voz, a doce voz, que era a música da minha casa… Mas não foi a voz que me impressionou, que me fez sorrir e chorar, senão o que ela dizia. Ainda que eu duvidasse, com toda a minha incredulidade, havia de convencer-me, tais eram as referências, as alusões que a pequenina voz do Além fazia a fatos, incidentes da vida que conosco vivera o corpo do qual ela fora o som…

“Mistificação? E que mistificador seria esse que conhecia episódios ignorados de nós mesmos, passados na mais estreita intimidade entre mãe e filha? Não! Era ela, a minha neta, ou antes, a sua alma visitadora que se comunicava daquele modo com o coração materno, levantando-o da dor em que jazia para consolação suprema.

“Ouvi toda a conversa e compreendi que nós estamos aproximando da grande era; que os tempos se atraem – o finito defronta o infinito, e das fronteiras que os separam, as almas já se comunicam. E eis como me converti, eis porque te disse que a minha estrada de Damasco foi o escritório onde, se não fui deslumbrado pelo fogo celestial, ouvi a voz do céu, a voz do Além, da outra Vida, do mundo da Perfeição…”

Num átimo, caiu por terra toda a sua concepção sobre a vida e a morte. É difícil matar o homem velho, preso às suas convicções, ao seu mundo pequeno, mas Coelho Neto aliava lucidez à coragem para enfrentar o desconhecido. Procurou as fontes. Leu e estudou Kardec. Leu Gabriel Delanne, Léon Denis, Camille Flammarion, Lombroso, Crookes, de Rochas, Wallace, Olive Lodge, Paul Gibier, Conan Doyle, Dale Owen e tantos outros.

A conversão do notável e saudoso escritor Coelho Neto ao Espiritismo tornou-se pública, como prova a entrevista que ele concedeu ao “Jornal do Brasil”, publicada no dia 7 de julho de 1923.

Coelho Neto faleceu no dia 28 de novembro de 1934 na cidade do Rio de Janeiro. Após a morte seu nome caiu em esquecimento. Entretanto, na década de 1940 voltou a ser lembrado, principalmente pelo filho Paulo Coelho Neto, que em 1942 escreveu uma biografia do pai e publicou uma série de antologias de seus textos.

FONTE: Revista Espírita Allan Kardec, ano XII, nº 44; Jornal Mundo Espírita de Março de 2001.



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