Vitória no amor

“Deixai vir a mim todos os sofredores, a multidão dos aflitos e dos infelizes, e eu lhes darei o grande remédio para os males da vida, revelando-lhes o segredo da cura de suas feridas. Qual é, meus amigos, esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as cura? É o amor, é a caridade! ...”  (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 19. Um Espírito Protetor.)

As palavras acima são de grande beleza e servem para as nossas mais profundas cogitações. Todos os habitantes deste mundo ainda de provas e expiações sofrem, não importando suas condições econômicas.

O sofrimento pode ser físico ou moral, conforme nos dizem os espíritos. Quanto mais próximo do início o espírito estiver em sua jornada evolutiva, de maior monta serão seus padecimentos físicos. Quando mais adiantado, esses sofrimentos alcançam o patamar de dores morais.

Nossas observações atentas nos remetem à veracidade dessas assertivas. Quem não sofre nessa Terra?

Resignação é a palavra-chave. Exemplos maravilhosos de resignação surgem em nossas vidas, como a resposta divina aos nossos anseios de como nos comportar melhor neste mundo.

Nesse quadro, surge a figura de Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado, como o modelo da resignação que melhor podemos ofertar. Um gigante, cego, paralítico, forte num corpo esquálido, deitado no seu leito, mas de pé moralmente. Uma força viva e modelo de trabalhador operoso do bem. Costumava ele dizer aos amigos que, quando não mais estivesse aqui, que se lembrassem de que ele orientava seguir Jesus e Kardec.

Ensinava muito com sua presença, sua alegria de viver e sua coragem. Seu conhecimento do Espiritismo era muito grande. Sua memória e inteligência eram fora do comum. Ensinou e, mesmo desencarnado, continua ensinando. Quem toma conhecimento de sua vida, aprende.

Muitos seres que vivem a resignação tornam-se capazes de grandes lições para quem passa por eles.

Pudemos conversar com uma senhora que passou por dores profundas. Hoje, uma trabalhadora do bem. Venceu seus sofrimentos com o amor ao próximo, em ações incessantes de caridade. Tem ela uma energia incomum. Sua vida é descobrir as dores alheias e se tornar um instrumento de auxílio onde necessitem dela. Em seu bairro é um ponto de referência. Quando se precisa de alguém para ajudar a um sofredor, lembram-se dela imediatamente para buscar ajuda. Hora é um remédio que vai buscar na unidade de saúde para alguém acamado que não pode ir, hora é alguém paralítico que não consegue tomar um banho, hora um velhinho que não pode ficar sozinho, hora alguém que fez uma cirurgia e precisa de ajuda... e por aí vai. Seu nome é lembrado por todos. “Falem com ela” – é o que comumente escutamos.

Tivemos a possibilidade de ouvir sua história. Uma história de dor e superação.

Seu filho querido, o mais novo, aos dezoito anos, foi assaltado perto de sua casa. O criminoso não se contentou em roubá-lo. Deu-lhe um tiro e o matou no assalto. Todos os que o conheceram são da mesma opinião: o jovem era excelente, gentil e bondoso.

O fato se deu há alguns anos. Somente as mães que já passaram pela morte de um filho sabem descrever a maior dor de uma vida.  É considerada a maior dor por todos os pais que já passaram por isso. A dor da morte de um filho. Todas as mães comentam, ao falarem conosco, que ficou uma sensação de um ‘buraco” no peito, um vazio. Uma dor moral intensa, que provoca, pela intensidade, uma sensação de dor física, de vazio no peito.

O Espiritismo, graças ao conhecimento que fornece, é uma fonte de consolação. Dá forças e coragem para vencer essa situação, embora a saudade seja imorredoura.

A mãe a que nos referimos não é espírita. Quando lhe contaram do sucedido a seu filho, desequilibrou-se, tamanha a dor que sentiu. Passou a andar pelas ruas do bairro, completamente alterada. Teve que ser internada, na época, num sanatório, para tratamento.

Ao ter alta do sanatório, voltou-se com todas as forças para os ensinamentos do Cristo, tornando-se voluntária em sua religião, servindo incessantemente a todos no bem. Superou sua dor com o amor ao próximo.

Hoje ela fala do filho sorrindo. Estivemos conversando sobre a imortalidade da alma e ela nos contou das vezes em que se viu fora de seu próprio corpo em processos de meditação. Não tem mais dúvidas. Assentou a casa sobre a rocha.

Lembrou-se sorrindo de quando se viu grávida do seu filho. Estava dormindo e acordou com a cama pulando, como se houvesse um terremoto. Abriu os olhos e viu um grupo enorme de criancinhas, de cerca de quatro anos de idade, pulando na sua cama e fazendo de conta que pulavam nos cavalos, fazendo o som: pocotó! Pocotó! Um deles era um menino.

Ela sabia que teria esse filho. Quando ele estava com quatro anos, fê-la recordar do fato, quando começou a pular na cama, dizendo pocotó, pocotó! Ela se lembrou imediatamente da visão.

Hoje ela sabe que não perdeu seu filho, que esse foi levado de volta por Deus, quando a esse aprouve retirá-lo da Terra. Já consolou a muitos dizendo que não perderam os entes queridos. Estão momentaneamente separados. Vão reencontrar-se um dia aqueles que amam, pois que continuam vivos além da morte.

Essa senhora é uma potência do bem. Não é espírita, mas tem uma grande confiança e fé em Deus. Já passou a grande dor e tem cabedal para ajudar os que sofrem. A caridade e o amor ao próximo são o caminho para a superação, para vencer o desânimo e voltar a ter esperança.

A verdade é divina e, como disse Zéfiro a Allan Kardec, a religião do futuro será a religião do Cristo. Ela vai imperar na Terra. Estamos aproximando-nos disso. A linguagem de muitos está ficando parecida e as atitudes fraternas, no bem ao próximo, estão aumentando.

A solidariedade cresce, mesmo que impulsionada pela dor. Nesse caso, a dor foi remédio eficaz para essa mãe. Despertou-a para o amor ao próximo. Ganhou ela. Ganharam todos os que ela ajuda.

O amor está vencendo no mundo. Tenhamos a certeza disso.

Nossas dores serão vencidas quando muito amarmos. Seremos, então, resignados. O consentimento do coração, aliado ao raciocínio, com o conhecimento, será consolador. 



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