A árvore humana - Rogério Coelho

A maior necessidade do médium é evangelizar-se antes de se entregar às tarefas mediúnicas

"E Jesus falando, disse à figueira: nunca mais coma alguém fruto de ti." - Jesus.  (Mc., 11:14).

Ensina-nos Allan Kardec[1]: "a figueira que secou é o símbolo dos que aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem; dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações.  É de perguntar-se que proveito tiraram delas os que as escutaram.

Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de serem úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida.  O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra, que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas, porém, baldas   de frutos. Por isso é que Jesus as   condena   à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz.

 (...) Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem nestes últimos, a falta dos órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima:  são   árvores destinadas   a fornecer alimento espiritual a seus   irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda parte, em todos os países, em todas as classes sociais, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados.  Se, porém, eles desviam do objetivo   providencial a preciosa faculdade que   lhes   foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos, se se recusam a utilizá-la em benefício dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas de Espíritos maus”.

A mediunidade, portanto, é um dom como todos os demais que independe do grau de moralidade de seu possuidor; é uma faculdade orgânica. O mesmo não se dá com a aplicação desse dom. Sob o ponto de vista da execução, o aspecto moral exerce influência muito grande.

Os Espíritos responderam ao Mestre Lionês[2]: "a Alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau de semelhança entre eles.

Ora, os bons têm afinidades com os bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam.

As qualidades que atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais.

Os defeitos que os afastam (e atraem os maus) são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria.

Todas as imperfeições morais são outras tantas portas abertas ao acesso dos maus Espíritos.  A que eles exploram com mais habilidade é o orgulho. Aí está a pedra de toque.  O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades e que, se não fora essa imperfeição teriam podido tornar-se instrumentos notáveis e muito úteis, ao passo que, presas de Espíritos mentirosos, suas faculdades, depois de pervertidas, aniquilam-se” e qual a figueira que secou, não   mais produzem frutos.

Perguntando a Emmanuel[3], qual é a maior necessidade do médium, ele responde: "a   primeira   necessidade   do   médium   é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo. E isso prejudicará a sua missão”.

Portanto, todo cuidado é pouco com as sugestões do "homem velho" tão comprometido com o orgulho, o egoísmo e a vaidade. Tomemos cuidado, muito cuidado para não perdermos a sintonia com os mananciais imarcescíveis da Espiritualidade Superior, enviscando-nos em situações lamentáveis quão constrangedoras, arriscando-nos a escutar de Jesus: "nunca mais coma alguém fruto de ti”.

 


[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. XIX, itens 9 e 10.

[2] -  KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio: FEB, 2003, - 2ª parte, cap. XX, itens 227 e 228.

[3] - XAVIER, F. C. O Consolador. 23.ed. Rio [de Janeiro]: 2001, q. 387.



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