A rude provação do mau - Rogério Coelho

Tal como o castigo de “Sísifo”, a desencarnação e a reencarnação se repetem dolorosas e dramáticas para os Espíritos calcetas

“(...) Uma luz implacável me iluminava os mais   secretos âmagos da alma, que se sentia desnudada, logo possuída de vergonha acabrunhante”. Novel[1]

Provavelmente nos acoimem de usar fortes tintas escatológicas na feitura deste artigo, mas, urge que a transcendente realidade do Espírito calceta seja propalada sem pejo, tal como o fez Manoel Philomeno de Miranda, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, no livro: “Tormentos da obsessão” e André Luiz na obra: “Os mensageiros”, psicografada por Chico Xavier, com sua portentosa e ímpar mediunidade.

Pois bem, aprendemos com Kardec[2] que “a duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo dos sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. Desse modo, o Espírito é o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem”.

A imperfeição e o sofrimento dela resultante possuem simetria bilateral, da mesma forma acontecendo com o bem e a felicidade. Assim, não há falta que não se traduza em proporcional punição e ato meritório que fique sem recompensa. 

Do Código Penal da Vida Futura2, podemos, com toda certeza, inferir: “(...) toda imperfeição traz, – ínsita –, em seu bojo, o próprio antídoto nos seus naturais, inevitáveis e sempre dolorosos corolários”.

O Inferno das supersticiosas e incoerentes tradições cristãs seria lugar de deleite ante os mais terríveis e verdadeiros quadros que mostram a triste sina dos maus. Para estes não há paz nem repouso enquanto permanecerem no mal...

Se pudéssemos acompanhar a situação de um Espírito mau num lapso de tempo que englobasse várias reencarnações, assistiríamos ao doloroso espetáculo das mais acerbas vicissitudes e dos mais pungentes ressarcimentos. Em virtude de suas vibrações deletérias, ele chamaria a si reencarnações em proscênios de dores quais os que se apresentam hoje no Oriente Médio e em muitas regiões africanas, onde serão queimados os carmas negativos, na própria fogueira que conservam acesa na intimidade d`Alma.

Tais Espíritos encontram enorme dificuldade para desencarnar depois da morte, presos que estão pelos constringentes laços da matéria grosseira... Desesperado, o Espírito procurará, debalde, o corpo, e se perderá num turbilhão de sombras e dores.  E o pesadelo continuará, quando, depois de muito sofrimento o Espírito calceta toma consciência de seu estado e lhe não reveladas as faltas cometidas em todas as reencarnações, faltas essas pendentes de resgates dolorosos.

Impotente, arrastado pelo turbilhão gerado pelas próprias iniquidades, “vagueia por lugares desertos”, como lemos nas Escrituras Neotestamentárias. Um grande vácuo se faz à sua volta! A reencarnação o atrai novamente qual terrível e ameaçador sorvedouro... As visões que lhe antecipam o futuro são apocalípticas: terríveis provações acenam com seu guante de dor. Tenta recuar, mas como que hipnotizado avança para a goela hiante que o atrai e... precipita-se no vórtice insondável da vida somática. Tal como o castigo de “Sísifo”, a desencarnação e a reencarnação se repetem dolorosas, dramáticas, pungentes...

Mas alguém poderia perguntar: tais reencarnações dolorosas se dão à revelia do Espírito calceta?  Onde fica o livre-arbítrio?!

A resposta está no capítulo 46 do livro “Nosso Lar”, psicografado por Chico Xavier, onde num diálogo entre André Luiz e sua mãe, ela explica: “(...) há reencarnações que funcionam como drásticos. Ainda que o doente não se sinta corajoso, existem amigos que o ajudam a sorver o remédio santo, embora muito amargo...   Relativamente à liberdade irrestrita, a alma pode invocar esse direito somente quando compreenda o dever e o pratique. Quanto ao mais, é indispensável reconhecer que o devedor é escravo do compromisso assumido. Deus criou o livre-arbítrio, nós criamos a fatalidade.  É preciso quebrar, portanto, as algemas que fundimos para nós mesmos”.

Um Espírito sofredor1 relata que nós, os encarnados, não podemos fazer ideia do sofrimento e das angústias de uma alma que sofre sem tréguas, sem esperanças, sem arrependimento...  E quando encarnada, eis que a morte acena novamente: a alma prestes a deixar o corpo, agita-se – impaciente -, enquanto as mãos crispadas tentam segurar a vida. Tenta falar e por fim gritar: “retenham-me!... Eu vejo o castigo!...” Tarde demais!... A morte sela-lhe os lábios; ela flutua em torno do corpo que não deseja abandonar.  Uma força misteriosa a impulsiona... Lança-se no Espaço, e nada de abrigo, nada de repouso!...  E, para cúmulo do acinte, cerram-lhe a tampa do caixão, não sem antes lhe dizerem com a maior ingenuidade:  “descansa em paz!” (!?).

Até que a Divina Luz o penetre e esclareça, não logrará apaziguar-se senão à força de muitos gemidos e expiações perfeitamente evitáveis se outra fosse a sua conduta.

“E será lançado nas trevas exteriores, onde há choros e ranger de dentes”.

Bendita e esclarecedora Doutrina Espírita!... 

Somente esse abendiçoado recurso do Mais Alto poderá nos auxiliar na caminhada segura e reta em direção aos Páramos Celestes, assinalados pelo Pai para todas as Suas criaturas, impedindo (se lhe acatarmos os alvitres) nossa queda nas abissais regiões de dores e escarcéus, e que nos ensina que “o Espírito é o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem”.

 


[1] - KARDEC,  Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed. Rio: FEB, 2003, Espíritos Sofredores – 2ª parte.

[2] - KARDEC,  Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed. Rio: FEB, 2003, cap. VII – 1ª parte.



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