Alfred de Musset, médium vidente e auditivo
Alfred de Musset nasceu em 11 de dezembro de 1810, em Paris. Filho de família culta e ligada às letras, desde cedo mostrou talento para a escrita e afinidade pela poesia. Frequentou o prestigiado Collège Henri-IV, onde estudou literatura clássica, filosofia e línguas.
Tornou-se figura importante do Romantismo francês no início dos anos 1830. Publicou poemas e peças notáveis — entre elas, Contes d’Espagne et d’Italie (1830) e On ne badine pas avec l’amour — e viveu o célebre romance com George Sand (1833), relação que marcou sua vida e sua obra. Em 1845 foi eleito para a Académie Française. Morreu em 2 de maio de 1857, em Paris, aos 46 anos.
A mediunidade em Musset, segundo testemunhos publicados por contemporâneas e por textos espíritas, manifestou-se já na infância escolar e o acompanhou por toda a vida. Diz-se que suas faculdades medianímicas incluíam vidência (ver figuras e aparições) e experiências auditivas (ouvir vozes), além de episódios de desprendimento do corpo e transe.
As “variantes medianímicas” teriam se revelado plenamente quando Musset já era adulto, no auge de suas faculdades intelectuais, foram testemunhas, Louise Colet , George Sand e também os relatos de duas mulheres próximas a Musset reforçam a versão de sua sensibilidade mediúnica.
Louise Colet (escritora e poetisa) narra — em suas obras e anotações — episódios em que Musset dizia ter visões, ouvir vozes e entrar em transe com facilidade. Ela transcreve palavras atribuídas ao próprio poeta, entre elas: “Há muitos anos que tenho visões e ouço vozes.”
George Sand também fez referência a manifestações espirituais envolvendo Musset, e em suas lembranças confirma que ele foi afetado por certas presenças espirituais — inclusive a noção de que “dois Espíritos se teriam apoderado dele”. Esses testemunhos são a base para interpretações que o consideram médium vidente e auditivo.
Musset afirmava ver e ouvir pessoas jovens que haviam morrido (amigos e amores), e descreveu sensações de desprendimento do espírito do corpo quando essas comunicações ocorriam.
Um caso narrado em jornais do fim do século XIX (Annales Politiques et Littéraires, 22 ago. 1897) relata uma “voz direta”: Musset teria ouvido, junto às janelas do Louvre, uma voz que dizia “Assassinaram-me na rua de Chabanais!”. Ele correu ao local e encontrou um cadáver — relato citado por diversas fontes espíritas como exemplo de sua relação com espíritos.
Louise Colet descreve três aparições femininas vistas por Musset; segundo ela, eram espíritos de mulheres que lhe haviam sido amadas em vida.
Houveram publicações espíritas e manifestações post-mortem.
Após sua morte, o movimento espírita passou a publicar comunicações e ditados mediúnicos assinados “Alfred de Musset”:
Revista Espírita (1860) — contém itens em que comunicações recebidas por médiuns aparecem com o nome de Alfred de Musset (por exemplo, comunicações pela médium “Srta. Eugénie” e textos intitulados Aspirações de um Espírito). Nesses ditados o “espírito de Musset” fala sobre poesia, a alma e temas sociais (como o papel da mulher). Essas publicações consolidaram a imagem dele, dentro do meio espírita, como espírito comunicante e reforçaram a ideia de que foi médium vidente e auditivo em vida.
Transcrição de declaração atribuída ao próprio Musset, citada por Louise Colet:
“Há muitos anos que tenho visões e ouço vozes. Como poderia eu pôr em dúvida, quando todos os meus sentidos o afirmam? Quantas vezes, ao cair da noite, tenho visto e ouvido o jovem príncipe que me foi caro e um outro amigo meu, ferido num duelo, em minha presença! Parece-me, no momento em que essa comunhão se opera, que meu espírito se me desprende do corpo, para responder à voz dos espíritos que me falam!”
Há um poema de caráter autobiográfico em que Musset descreve a presença constante de um “fantasma” desde a juventude — texto citado por biógrafos espíritas como evidência precoce de sua vidência:
Nos venturosos tempos de escolar
Eu me encontrava certa noite lendo
Em minha casa, paternal mansão.
À minha mesa veio, então, sentar-se
Um menino trazendo vestes negras,
Parecido comigo qual irmão.
[...]
Enfim, onde toquei o soalho ou chão,
Eu via sempre ao pé de mim sentar-se
Um infeliz trazendo vestes negras,
Parecido comigo qual irmão.
Alfred Musset e as comunicações na Revista Espírita de 1860
Em 1860, a Revista Espírita publicou comunicações mediúnicas atribuídas ao espírito do poeta francês Alfred de Musset, que havia falecido em 1857. Ele se manifestou espontaneamente em sessões mediúnicas da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, presidida por Allan Kardec.
Na sessão de 23 de novembro de 1860, houve a principal manifestação durante uma sessão em que o espírito de Musset se comunicou por meio da médium Srta. Eugénie.
Ele se apresentou de forma espontânea, expressando o desejo de agradar e se colocando à disposição para tratar de qualquer assunto.
A arte espírita: Durante a sessão, Allan Kardec questionou se, após a arte pagã e a arte cristã, haveria uma arte espírita. Musset respondeu com uma comparação alegórica:
Arte pagã: um verme.
Arte cristã: um casulo.
Arte espírita: uma borboleta.
Ele explicou que a mitologia pagã já continha elementos da vida espírita, enquanto o cristianismo, com a austeridade de suas origens, se baseou no sofrimento. A arte espírita representaria a libertação do espírito, simbolizada pela borboleta.
O espírito de Alfred de Musset também se manifestou em outras ocasiões em 1860, abordando temas como a influência do médium sobre o espírito e o devaneio.
Essas comunicações foram registradas e publicadas na edição de dezembro de 1860 da Revue Spirite (Revista Espírita), permitindo que a visão de Musset sobre a arte e o Espiritismo fosse conhecida pelo público.
Abaixo temos o texto na íntegra :
Revista espírita — Ano III — Dezembro de 1860.
DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.
Dissertações Espíritas recebidas ou lidas na Sociedade por diversos médiuns.
Alfred de Musset. (Médium – Srta. Eugénie.)
(Sumário)
1. — Na sessão da Sociedade do dia 23 de novembro, um Espírito comunicou-se espontaneamente, escrevendo o seguinte:
Como desejo, antes de tudo, vos ser agradável, pergunto de que tema quereis que eu trate. Se tiverdes um assunto, perguntai. Enfim, Senhores, sou sempre o vosso dedicado, Alfred de Musset.
— Sendo vossa visita imprevista, não temos um assunto preparado. Pedimos, pois, que vos digneis de tratar um à vossa escolha. Seja qual for, ficaremos muito reconhecidos.
— Tendes razão. Sim, porque meu Espírito, em particular, e nós todos, em geral, conhecemos melhor as vossas necessidades e melhor podemos escolher as comunicações, do que faríeis vós mesmos. “De que vou tratar? Sinto-me assaz embaraçado em meio a tantos assuntos interessantes. Comecemos por falar daqueles que desejam ardentemente ser espíritas, mas que parecem recuar diante do que julgam uma apostasia. Falemos, pois, para os que recuariam ante a ideia de se acharem em contradição com o catolicismo. Ouvi bem, digo catolicismo e não Cristianismo.
Temeis renegar a fé de vossos pais? Erro! Vossos pais, os primeiros, os que fundaram essa religião sublime em sua origem, eram mais espíritas do que vós; pregavam a mesma doutrina que hoje vos ensinam. E quem diz: Espiritismo, como vossa religião, diz: caridade, bondade, esquecimento e perdão das injúrias. Como o catolicismo, ele vos ensina a abnegação de si mesmo. Podeis, pois, consciências timoratas, reuni-los e vir, sem escrúpulo, sentar-vos a esta mesa e conversar com os seres de quem sentis saudade. Como vossos pais, sede caridosos, bons, compassivos, e no fim da estrada tereis todos o mesmo lugar; no fim do caminho, a balança que pesará vossas ações terá os mesmos pesos e a obra o mesmo valor. Vinde sem temor, eu vos peço; vinde, mulheres graciosas, com o coração cheio de ilusões; vinde aqui, e estas serão substituídas por realidades mais belas e mais radiosas; vinde, esposa de coração duro, que sofreis a vossa aridez, aqui está a água que amolece a rocha e estanca a sede; vinde, mulheres amantes, que em toda a vossa vida aspirais à felicidade, que medis a profundidade de vosso coração e desesperais de preenchê-la; vinde, mulher de inteligência ávida, vinde: aqui a ciência corre clara e pura; vinde beber nesta fonte que rejuvenesce. E vós, velhos, que vos curvais, vinde e rireis na face de toda essa juventude que vos desdenha, porque, para vós, se abrem as portas do santuário, para vós o nascimento vai recomeçar e trazer a felicidade de vossos primeiros anos; vinde, e nós vos faremos ver os irmãos que vos estendem os braços e vos esperam; vinde, pois, todos, porque para todos há consolações. Vede que me presto de boa vontade; disponde de mim e me dareis prazer.”
2. — Aproveitando a boa vontade do Espírito de Alfred de Musset, foram-lhe dirigidas as seguintes perguntas:
1º Qual será a influência da poesia no Espiritismo?
Resposta. – A poesia é o bálsamo que se aplica sobre as chagas. A poesia foi dada aos homens como o maná celeste, † e todos os poetas são médiuns que Deus enviou à Terra para regenerar um pouco o seu povo e não deixar que se embruteçam completamente. Pois o que haverá de mais belo, que mais fale à alma que a poesia?
2º A pintura, a escultura, a. arquitetura, a poesia foram, sucessivamente, influenciadas pelas ideias pagãs e cristãs. Podeis dizer se, depois das artes pagã e cristã, haverá um dia a arte espírita?
Resposta. – Fazeis uma pergunta que se responde por si mesma: o verme é verme, torna-se bicho da seda, depois borboleta. Que há de mais etéreo, de mais gracioso que uma borboleta? Pois bem! A arte pagã é o verme; a arte cristã o casulo; a arte espírita será a borboleta.
(A respeito vide o artigo anterior sobre a arte pagã, a arte cristã e a arte espírita).
3º Qual a influência da mulher no século dezenove?
Nota. – Esta pergunta foi feita por um jovem, estranho à Sociedade.
Resposta. – Ah! é o progresso. E é um jovem quem faz a pergunta; magnífico; eu mesmo seria muito amador para não deixar de responder, e estou certo de que todos o desejam também.
A influência da mulher no século dezenove! Acreditais que ela tenha esperado esta época para que continueis a dominá-la, pobres e fracos homens que sois? Se tentastes aviltá-la, foi porque a temíeis; se tentastes abafar a sua inteligência, foi porque receastes a sua influência. Somente em seu coração não pudestes opor barreiras. E como o coração é o presente que Deus lhe deu em particular, continuou senhor e soberano. Mas eis que a mulher também se faz borboleta: ela quer sair de seu casulo; quer reconquistar seus direitos divinos; como aquela, lança-se na atmosfera e dir-se-ia que respira o ar em seu justo valor. Não julgueis que eu as queira transformar em eruditas, letradas, poetisas. Não; mas eu quero, querem aqui, no mundo em que habito, que aquela que deve elevar a Humanidade seja digna de seu papel; que aquela que deve formar os homens comece a se conhecer a si mesma e, para lhes infiltrar desde tenra idade o amor do belo, do grande, do justo, é necessário que ela possua esse amor num grau superior, é preciso que o compreenda. Se o agente educador por excelência for reduzido ao estado de nulidade, a sociedade vacilará. É o que deveis compreender no século dezenove.
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