Ante o passado

Nosso querido amigo Jerônimo Mendonça costumava dizer que na vida dos inumeráveis Saulos sempre há um encontro com Jesus, às portas de Damasco, que lhes envia para auxílio e por misericórdia um Ananias para socorrê-los.

Esse fato aconteceu com ele, quando jovem, apenas 15 anos. Estava ele preocupado em como estaria sua avó desencarnada no mundo espiritual. Referia que Jesus lhe enviou um Ananias, na figura do presidente do Centro Espírita Amor Fraterno, de Ituiutaba, Minas Gerais, sua terra natal, que o elucidou sobre os problemas do destino e da dor, e lhe disse que a religião que sua avó tinha professado não importava, mas sim, as atitudes que ela teve, como verdadeira cristã, e, que, portanto, ela deveria estar bem, no mundo espiritual.

Isso o confortou e o levou a estudar o Espiritismo, tornando-se um arauto do Evangelho, apesar de suas limitações físicas, cego, completamente paralisado num leito, com dores por todo o corpo, o que levou o povo a designá-lo como “O Gigante Deitado”.

Sua vida exemplar nesta sua última existência foi também um processo de reparação de débitos de cerca de 4.000 anos atrás, no antigo Egito. Ele nos disse que se preparou durante muitos séculos para esta existência. Tornou-se um missionário de Jesus, exemplificando a obediência e a resignação. A obediência, segundo o espírito de Lázaro, no Evangelho Segundo o Espiritismo, trata-se do consentimento da razão e a resignação é a aceitação do coração.

Todos nós temos um passado a corrigir. Hoje, somos muito melhores do que em nossa última encarnação. Hoje professamos a doutrina da caridade e buscamos o amor ao próximo. A encarnação que temos hoje, para todos nós, é a mais importante de todas, pois que é a oportunidade de agora, que vivenciamos, na atual experiência. É a que temos. Urge aproveitá-la bem.

A dor tem batido à porta de muitos, afinal ainda estamos num mundo de provas e expiações.

Como enfrentamos as dores, que são a bendita oportunidade de recuperação do ontem?

Devemos, com o conhecimento espírita, bendizer as dores e seguir trabalhando no bem e melhorando o nosso mundo íntimo. Caminhar, ainda mesmo com os pés cansados e os joelhos desconjuntados, parodiando aqui o apóstolo Paulo.

Há os que se tornam luzes na sua jornada.

Conhecemos um médico que dizia não acreditar que Jesus tivesse realmente existido e, além disso, não professava uma religião. Tinha uma imensa compaixão dos sofrimentos dos outros, principalmente dos mais pobres. Quando internava um paciente pobre, esse não tendo como pagar o hospital, ele mesmo pagava do seu bolso o hospital para o doente e não cobrava nada dele.

Vivia em Ituiutaba, a terra do Jerônimo.

Tivemos a oportunidade de conviver com ele. Velhinho, andando com dificuldades, coluna toda alterada, dores intensas, ainda trabalhava. Por onde ele passava nas calçadas, se alguém o via e já tinha sido atendido por ele, atravessava a rua e vinha abraçá-lo e acariciar-lhe a cabeleira branca. Foram muitas as vezes que presenciamos isso. “Meu velhinho querido”, diziam muitos. E contavam a nós o que ele tinha feito por eles. Ele ficava sem graça, não achava que tinha feito nada demais.

Todos o amavam.

Deve ter bem reparado seus débitos de ontem com o exercício mais fraterno da arte de curar. Amava a medicina, amava ajudar as pessoas.

Qual a sua religião? A caridade.

Tinha uma força de vontade e uma capacidade de superação intensa, a ponto de surpreender sua fisioterapeuta e seu filho também médico, que nos confidenciou, quando ele estava com 85 anos, após uma pneumonia grave que o deixou internado, que achava que ele não andaria mais, que velhinho naquela idade, depois de uma doença grave daquelas raramente se recuperava.

Ele voltou para casa na cadeira de rodas e começou a fisioterapia. Cerca de 2 semanas após isso, já andava normalmente, indo para a sua fazenda, onde viviam algumas famílias que dependiam dele, por trabalharem lá. Ele era movido pelo dever de ficar bom a tempo de pagar o salário dos empregados. Não eram muitos, mas ele se preocupava.

Quando desencarnou aos 86 anos, quatro dias após a sua desencarnação, em reunião mediúnica, pela psicofonia, um espírito nos deixou uma linda mensagem sobre esse médico, desencarnado cerca de 4 a 5 anos atrás.

Diz a mensagem:

“Um espírito deixou o mundo espiritual e reencarnou numa pequena cidade. Não acreditava que Jesus tivesse existido realmente. Suas ações na caridade foram tão intensas, que quando desencarnou toda uma cidade se levantou em preces por ele. O espírito, recém-desencarnado, viu-se afligido momentaneamente, na frente de um mar revolto, que parecia querer atingi-lo e ele ficou temeroso. Uma voz mansa e doce se fez ouvir e as águas foram se acalmando. Ele ficou encantado, ante a beleza azul e mansa daquelas águas. Viu um barqueiro remando em sua direção, com braços vigorosos. Ao chegar, desceu do barco e se aproximou dele. Ele perguntou: Quem é você? O barqueiro respondeu: Eu sou Jesus. Tomou-o nos braços e subiu com ele para as estrelas.”

Essa psicofonia nos levou a uma grande emoção. A caridade é a verdadeira religião. Os atos de amor ao próximo criam luzes para a alma.  Bem dizia Pedro: “O amor cobre uma multidão de pecados”.

Temos a oportunidade agora de nos corrigirmos, de melhorarmos, de fazermos todo o bem que pudermos. Dizemo-nos cristãos, mas temos que ser melhores. Esse médico não o era e fez o que deveria ter feito: amou o seu próximo.

Corrijamos o nosso passado no presente, com ações de amor, bondade, compaixão.

Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Assim dizia Jesus.



Comentário

0 Comentários