Antônio Olavo Pereira

Antônio Olavo Pereira nasceu em Batatais, interior de São Paulo, aos 5 de fevereiro de 1913. Filho de José Olympio de Morais Pereira e Anna Cândida da Silva Pereira, quinto filho numa irmandade de nove, foi para a capital paulista aos 14 anos, onde estudou no Colégio Rio Branco e no Ginásio do Estado.

Foi casado com Gulnara Lobato de Morais Pereira. Ela era uma figura notável por si só, sendo sobrinha de Monteiro Lobato e uma das tradutoras mais respeitadas do Brasil. Gulnara também foi autora do livro O Menino Juca – biografia de Monteiro Lobato, seu tio, destinada aos jovens.

O casal teve um filho, Antônio Olavo Pereira Junior. Posteriormente, associou-se ao seu irmão mais velho, o grande editor José Olympio, na direção do departamento editorial da Livraria José Olympio Editora, tornando-se uma figura importante no cenário editorial brasileiro.

Aos 20 anos, começou a escrever para a revista O Malho.

A posição de Antônio Olavo Pereira perante o Espiritismo era conhecida de todos quantos frequentavam a filial paulista da Editora José Olympio. Escritores, poetas ou jornalistas, a todos seus amigos o laureado romancista jamais escondeu o entusiasmo pela fenomenologia espírita, que observava desde ao tempo em que residia na cidade de Tremembé, no Vale do Paraíba.

Seu depoimento foi escrito em julho de 1946; Jorge Rizzini o extraiu da obra Trabalhos post-mortem do padre de Urbano Pereira, ex-catedrático de física do Colégio Estadual de Taubaté. Convidado por Urbano a assistir aos trabalhos de materialização que se realizavam em Pindamonhangaba, ele pôde, numa das sessões, observar uma interessante prova a que se submeteu o espírito do Padre Zabeu, a pedido de um médico paulista. Seu depoimento é a reprodução do que foi essa experiência. 

Vejamos seu relato: 

Espírito sequioso de experimentações sempre renovadas em sua busca da Verdade, o Dr. Édson do Amaral, sabedor da demonstração acima descrita, a que não estivera presente, formulou ao Padre Zaqueu um repto no propósito de desmascará-lo. Submetê-lo-ia a uma prova decisiva, como o mais incrédulo e irredutível que era dentre os observadores que vinham formando o seu auditório. Obtida a aquiescência do desafiado, preparou o Dr. Édson os elementos do teste, sem o conhecimento do grupo. A 20 de julho de 1946 convocaram-se dez assistentes – sete já familiarizados com aqueles trabalhos e três que pela primeira vez os assistiam.

Às vinte horas dirigiu-se o grupo ao salão de provas, cujas janelas se achavam fechadas e protegidas por estores escuros. O Dr. Édson do Amaral trazia à mão uma valise cujo conteúdo era por todos ignorado. A porta da entrada foi fechada a chave pelo presidente do Centro. Viam-se duas alas de cadeiras separadas por uma passagem central onde foram armados os tripés de duas máquinas fotográficas. Dispuseram-se os assistentes na primeira fila, à esquerda e à direita da passagem. À sua frente, a cerca de quatro metros, o médium tomara lugar numa poltrona ao lado do móvel que sustinha uma vitrola portátil e junto de uma cabine de sarrafos, independente da parede dos fundos. Ao lado da vitrola, uma mesinha com duas cornetas fosforescentes. Nada mais se notava no recinto.

A chave das algemas que ligavam os pulsos do médium foi confiada a um dos estranhos ao grupo experimentalista. Apagadas as luzes, o diretor dos trabalhos, Sr. Arnaldo Amadeu, formulou as preces habituais. Seguiu-se o ruído peculiar ao ato de dar corda à vitrola, ouvindo-se instantes depois as primeiras notas da Ave-Maria. E partindo de um ponto que dava a impressão de localizar-se sobre a vitrola, a voz do Padre Zabeu saudou a todos com débil “boa-noite”. Indagou dos presentes, individualmente, à exceção de três ou quatro, como iam passando, tratou de dois casos de saúde, relacionados a dois dos circunstantes e motivos de consulta prévia, para finalmente dirigir-se ao Dr. Édson, em tom de galhofa, como que traindo ingênua curiosidade em torno do conteúdo da valise. Inquirido a respeito, respondeu o Dr. Édson tratar-se de uma chapa de raios X, que desejava submeter à apreciação do padre Zabeu. Estava formulado o teste.

Todavia, a resposta inicial do Padre Zabeu foi de irônico e bem humorado riso. Voltando-se para um dos observadores a quem estava afeta a parte do controle fotográfico, dirigiu-lhe o seguinte comentário:

- Chapa de raios X, hein, R.?

 E, prosseguindo, sempre, em tom de bom humor:

- Você já viu um tiro sair pela culatra, R.?

- Já viu alguém matar um coelho com duas cajadadas?

E riu-se alegremente. Voltando-se de novo para o Dr. Édson, disse-lhe o padre Zabeu:

- Traga-me sua chapa de raios X, Édson. Você verá o que farei com ela.

E de pronto uma das cornetas fosforescentes, que em pleno escuro podiam ser localizadas sobre a mesinha ao lado da vitrola, levitou à altura de três metros e aproximou-se do ponto onde se achava sentado o Dr. Édson. Este se levantou, deu alguns passos em direção à corneta que o orientava qual lanterna de indicador de cinema, depôs no ar o disco tomado por uma força invisível e voltou ao seu lugar, enquanto a corneta se afastava e o ruído característico de um disco esfregado no piso de ladrilhos era ouvido por todos.

Chegou-se, pois, facilmente, à conclusão de que a chapa de raios X do Dr. Édson era uma gravação comum. Falhada em desfavor do desafiante a primeira parte do teste, dirigiu-lhe o padre Zabeu algumas palavras de admoestação, em tom amigo, mas sério.

Disse-lhe em síntese que insistia em comparecer àquelas reuniões com espírito zombeteiro e que seria a última oportunidade que lhe oferecia de firmar um juízo definitivo sobre os fenômenos metapsíquicos.

Respondeu o Dr. Édson, traindo forte emoção, que não o movia nenhum propósito de menosprezo àqueles trabalhos, mas simplesmente o desejo de obter sempre novas e diferentes provas, no seu afã investigador. Instantes depois anunciava o Padre Zabeu, em voz sempre fraca, mas clara e nítida, que ia recorrer aos colaboradores do espaço na preparação de uma surpresa ao Dr. Édson. Pequena pausa se fez então, durante a qual se ouviu novamente o ruído da manivela da vitrola, enquanto soavam no recinto as notas de novo disco. Antes de findar-se a gravação ouviu-se a voz do Padre Zabeu advertir os fotógrafos de que era chegado o momento de serem batidas as chapas. Ao clarão das foto-flash distinguiram todos o médium na posição fixada pela câmara, observando-se que cada qual continuava em seu posto como no início da sessão.

Em seguida, nova levitação da corneta, acompanhada das seguintes palavras dirigidas ao Dr. Édson:

- Aqui está a sua chapa, Édson.

Este apanhou o disco que sob a corneta lhe era depositado na mão, sentou-se, examinou-o pelo tato. Havia sido enrolado num plano só, em duplo sentido longitudinal. Passou-o o Dr. Édson aos assistentes colocados ao seu lado, ao mesmo tempo em que a corneta era deposta suavemente sobre as pernas de um dos observadores. Padre Zabeu pronunciou algumas palavras finais e a sessão foi encerrada.

Acenderam-se as luzes, o médium voltou ao estado consciente e foi desalgemado, verificando-se na ocasião fortes vincos em seus pulsos. Pôs-se então o Dr. Édson a procurar no disco a marca que o identificava e que segundo revelou aos presentes havia sido feita a fogo sob o dístico. Reconheceu-o, menos pelo sinal especial, do que pelos ordinários, como sejam numeração, títulos etc., todos previamente anotados.

O disco passou pelas mãos de todos os observadores, até que, não satisfeito com os elementos identificadores controlados, procurou o Dr. Édson destorcer uma das curvas, partindo-o, em consequência, ao meio, e afirmando haver encontrado apenas em parte o sinal. Lamentou, então, o presidente do Centro Sr. Mário Amadei, que prova de tal valia ficasse de certo modo inutilizada, sugerindo em seguida um dos observadores que se fizesse nova concentração, para saber-se da possibilidade de reparação do disco. Voltou o médium à sua poltrona e imediatamente foi atuado por um espírito que declarou ser possível consertá-lo, desde que não se perdesse mais tempo em discussões.

Algemou-se o médium, cada qual voltou ao seu lugar, apagaram-se as luzes. O disco foi novamente tomado das mãos do Dr. Édson pela força invisível que sustinha a corneta, e minutos depois a voz do Padre Zabeu deu por definitivamente encerrada a sessão, despedindo-se e anunciando que outra entidade presente, o Dr. Luís Gomes do Amaral, dirigir-se-ia a todos por incorporação. Ouviu-se, efetivamente, em seguida, partindo do próprio médium, possante voz em exortação espiritual, finda a qual lançou ao dr. Édson severa reprimenda pela sua incurável persistência negativista daqueles fenômenos. Despediu-se e as luzes foram acesas. Ainda surpresos com o inopinado da cena, descobriram os experimentadores o disco do Dr. Édson sobre o tapete, a alguns passos além do ponto em que estiveram sentados. Restaurado, desenrolado, perfeito, como se acabasse de sair da estante de uma casa de música. Examinou-o com atenção o Dr. Édson, encontrando-lhe todos os sinais identificadores. Posto na vitrola, foi tocado com perfeição.

Lavrou o Dr. Édson do Amaral ata do próprio punho, relatando os acontecimentos conforme vão aqui reproduzidos de que o disco enrolado, depois partido e ulteriormente posto em condições de ser tocado, era o mesmo conduzido por ele à sessão na valise com que penetrara no auditório.

A partir desse episódio Antônio Olavo Pereira, se aprofundou nos estudos espíritas.

Casado por mais de quarenta anos com Gulnara Lobato de Moraes Pereira, Antônio Olavo Pereira faleceu em São Paulo, aos 80 anos , no dia 15 de novembro de 1993.



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