Deus pune? Deus é justo? Deus perdoa?
Segundo os ensinamentos espíritas, podemos afirmar com toda a segurança: Deus não pune, Deus é justo e, por isso, Deus perdoa as faltas que cometemos. Aliás, não é isso que Jesus colocou na Oração Dominical: “Pai, perdoa as nossas faltas, assim como perdoamos aos nossos devedores”?
O Criador, é óbvio, estabeleceu leis que regem a vida em todo o Universo. Se as infligimos, devemos sofrer-lhes a consequência. Foi o que levou Jesus dizer a Pedro: “Todo aquele que usa a espada para matar morrerá sob a espada”.
Uma criança que reencarne, por exemplo, com deficiência, submetida portanto a necessidades especiais, não é vítima de um suposto castigo divino, porque em muitos casos ela já se encontrava assim na pátria espiritual, muitas vezes por causa de um equívoco, de um ato desesperado, como um tiro desferido contra a própria cabeça. Nascer com deficiência não significa que ela esteja sendo punida. Digamos que esteja colhendo o fruto do que semeou, tal como aprendemos nas lições evangélicas, que nos mostram que na vida a semeadura é livre, mas a colheita é compulsória.
Certa vez, numa das reuniões realizadas por Chico Xavier, apareceu um senhor trazendo nos braços uma filhinha nas condições que mencionamos. Ele estava a caminho de São Paulo para tentar-lhe o tratamento, mas viera à casa espírita a fim de orar e pedir para a pequenina o auxílio dos benfeitores espirituais. O fato é relatado no cap. 8 do livro Astronautas do Além, obra de autoria de Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos diversos.
Segundo o médium, comoveu a todos o carinho e o cuidado do pai para com a filhinha que lhe choramingava nos braços, agitada e inconsciente. Diante do quadro enternecedor, Chico observou que todos certamente refletiam sobre os princípios da reencarnação, tema que foi em seguida objeto da preleção da noite.
No final da reunião, Emmanuel escreveu alguns comentários sobre a lei da reencarnação e, depois dele, comunicou-se o poeta Silva Ramos, que escreveu por intermédio de Chico Xavier o soneto Vinculação redentora, que resumiu em poucos versos o drama que havia unido, na presente existência, o pai e sua querida filha:
Vinculação redentora
(Silva Ramos)
O fidalgo, ao partir, diz à jovem senhora:
“Eu sou teu, tu és minha!… Espera-me, querida!…”
Longe, ergue outro lar… Vence, altera-se, olvida…
Ela afoga em suicídio a mágoa que a devora.
Falece o castelão… Vê a noiva esquecida…
Desencarnada e aflita, é uma sombra que chora…
Ele pede outro berço e quer trazê-la agora
Em braços paternais ao campo de outra vida!…
O século avançou… Ei-los de novo em cena…
Ele o progenitor; ela, a filha pequena
A crescer retardada, abatida, insegura…
Hoje, ele, em tudo, é sempre o doce pajem dela
E a noiva de outro tempo é a filha triste e bela
Agarrando-se ao pai nos traumas da loucura.
Deus é justo e bom. Tais atributos, ensinados pela filosofia clássica, são confirmados pelo Espiritismo, e é por isso que Ele nos perdoa, embora seu perdão não consista na anulação do que fizemos, mas sim na oportunidade que o Criador nos concede de repararmos os erros cometidos. Disso advém a necessidade das existências sucessivas, bendita reencarnação, lei divina que nos dá os meios de fazermos aos outros o que deveríamos ter feito e não fizemos e, ainda, reparar os danos que causamos.
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