Do estábulo para o trabalho - Ricardo Forni

Aprendi no belíssimo livro do doutor José Carlos De Lucca, Simplesmente Francisco, da editora Letramais, que no século XII em Assis, na Itália, a mãe daquele que reencarnaria fiel ao seu Mestre, Francisco, inicialmente João, entrava em trabalho de parto para que esse Espírito de escol tomasse nova vestimenta em testemunho perante a humanidade de como os cristãos precisam aprender a se comportar.

Naquela época não existia a anestesia para o parto normal denominada de analgesia, realizada através de uma técnica conhecida como peridural, cujos detalhes não vêm ao caso.

O fato é que dona Pica, era esse o nome da mãe de Francisco, experimentava as dores do parto normal, que hoje está cada vez mais raro, porque as mulheres, quando não fazem opção por não ter filhos, preferem a cirurgia denominada cesariana.

O termo “parto” tem origem do latim “partus”, que significa “nascimento” ou “ato de parir”. Deriva do verbo “parere”, que significa trazer à luz” ou “gerar”.

Devido a essa origem, muitos não consideram adequado, e sou da mesma opinião, embora não represente significativamente nada, empregar o termo “parto” à cirurgia para uma criança nascer. O parto é um termo adequado quando o nascimento ocorre pelas vias naturais que existem no corpo feminino.

Seja lá como for, a pessoa nasce, ou melhor, reencarna para dar cumprimento à Lei. E era essa a situação que dona Pica enfrentava naquela distante data. Com dores, sem analgesia, e a criança estava dando muito trabalho com os escassos recursos da época para vir ao mundo.

Nessa situação um estranho bate à porta da casa de Pietro Bernardone, pai de Francisco. Atendido, ele orienta que a senhora envolvida nas dores do parto seja levada para o estábulo do local, porque na casa a criança não nasceria.

Seguida essa orientação, cujo autor era um ilustre desconhecido, o menino lança ao mundo seu primeiro choro anunciando seu retorno a este planeta de provas e expiações.

Tenho em alta desconfiança, já que não posso provar, que foi o próprio Francisco quem pediu para renascer nesse local e assim seguir os passos do seu Mestre desde o seu surgimento na face do planeta.

Retornando da sua viagem à França aonde fora a negócios, o senhor Bernardone muda o nome de João que a mãe havia dado ao filho, para “Francesco” em homenagem aos franceses, respeitáveis fregueses do estabelecimento comercial na Itália.

Fico a meditar se nos fosse dado a escolher em nossa programação reencarnatória a oportunidade de renascer, se teríamos a humildade e a coragem de optar por um local proporcional nos dias atuais ao que Francisco supostamente escolheu.

Do estábulo, Francisco teve uma breve incursão pelos sonhos da juventude da época e que nos Espíritos de elevada evolução se desfazem no chamamento das dores que o mundo os convida a consolar.

Com ele também foi assim. Saltou do estábulo para os seus irmãos leprosos. Deixou os estábulos e confabulou com os animais, seus irmãos menores.

Do estábulo doou-se sem nada esperar em troca.

Perdoou os mínimos pensamentos de crítica que devem ter surgido ao reivindicar junto ao Papa Inocêncio III ou Honório III a oportunidade de fundar a ordem menor para que pudessem viver em extrema pobreza, rica de humildade e pobre, imensamente pobre, de orgulho e egoísmo.

Ah! Irmão Francisco! Ajuda-nos a sair dos valores do mundo, a deitarmo-nos no berço da humildade amparados pela ausência do orgulho e da vaidade que ainda transbordam de nossos sentimentos, como braços ávidos de agarrar-nos às recompensas da Terra!

Auxilia-nos a buscar os leprosos que sustentam as chagas da alma e dessa forma tratarmos as nossas.

Ampara-nos na convivência com os corações feridos que deixamos nas estradas das existências e que agora nos procuram com a permissão da Providência Divina para que possamos amar na proporção em que as reconciliações se fizerem necessárias!

Toca a nossa consciência através dos teus mensageiros para que aprendamos a dar para sermos atendidos como necessitados do Amor que impera no Universo do Criador.

Deixa-nos apoiar em teus exemplos de fidelidade ao Mestre para que consigamos perdoar ao nosso próximo e também a nós mesmos, muitas vezes necessitados do amor que negamos aos nossos desequilíbrios que se repetem e ecoam em nossas consciências imortais.

Tu que depositaste o corpo nu sobre o solo frio da Úmbria, socorre-nos em nossos enganos para que possamos nos despir das ilusões do mundo material, verdadeiro canto da sereia aos viajores desorientados no percurso terrestre.

Permita-nos segurar em tuas mãos abençoadas para que possamos reerguer-nos do estábulo das ilusões transitórias em direção ao caminho estreito e certo que nos conduzirá ao rebanho do Divino Pastor!



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