Maternidade nas almas nobres

Tenho observado com muito carinho e atenção a delicadeza de certas pessoas que nascem com o dom maternal, sem distinção de sexo.  Vou relatar uma experiência vivida em minha atual cidade: Londres.

No meu trajeto entre o meu ponto de ônibus e a nossa sede da BUSS, são apenas 8 paradas do veículo. No horário de saída das escolas, primárias ou fundamentais, aqui em Londres, e são muitas na minha região, praticamente uma escola a cada duas paradas, no horário das 15h30 às 16h30, os ônibus ficam lotadíssimos de jovens e mães com seus filhinhos, mochilas, casacos e muita conversa alta. A energia de um espaço lotado de crianças é verdadeiramente uma usina de eletricidade. E aquela quinta-feira não foi diferente. A motorista do ônibus, exalando maternidade e amor, compreensão e paciência, teve todo o cuidado, como deve ser, em deixar todos confortáveis e seguros dentro do ônibus, sob sua guarda e regulamento.

Chovia muito. Casacos e cabelos molhados, pois criança, mesmo não sendo de açúcar, faz questão de andar sem sombrinha, embora o vento britânico venha castigando muito esta ilha, nestas últimas semanas.

Nessas situações observa-se com muita facilidade o comportamento dos adultos já acostumados, os adultos maternais, isto é, que colocam em evidência o cuidado que Jesus teria para com os pequeninos, para com todos.

A porta do ônibus não fechava. Ninguém se movia, para fazer mais espaço. Ninguém queria ficar na chuva. Nossa motorista abre a porta de seu cubículo/cabine onde está protegida a conduzir o veículo, e em voz terna e em tom bem alto diz: - Meus pequenos alegres, vamos colaborar com o espaço para o cadeirante que precisa entrar? Assentos livres “upstairs”. Quem se movimenta? E aí, lentamente, os jovens molhados, com suas mochilas grandes às costas, atendem e obedecem. Sobem em silêncio e o espaço do cadeirante é liberado.

Constantemente essa situação acontece. Presenciei várias, já que é o meu trajeto entre ir e vir. Em outras ocasiões, motorista grita para ser ouvido ao microfone, diz que não vai sair do local até que saiam ou silenciem o barulho e a algazarra, que é até mesmo normal após o horário escolar e estando em bandos de “passarinhos”.

Fiquei pensando em nosso exemplar do Evangelho, na passagem de Jesus: “deixai vir a mim as criancinhas”, que nos traz um ensinamento de alto conteúdo, pois a inocência da criança está presente até mesmo em muitos adultos, em muitas famílias, que passam por problemas de toda ordem.

Aqui em Londres temos a Sir William Crookes Spiritist Society - SWCSS -, a primeira casa espírita a adquirir propriedade financiada, e detém a chave de abrir e fechar, 24 horas por dia, com atividades nos sete dias da semana. Isso é um sonho de muitos grupos espíritas fora do Brasil, a maioria em espaço alugado por hora e alguns alugados por mês. Na SWCSS, por ser espaço ainda em reforma, e pequeno, ouvem-se as atividades dos ensinos espíritas das crianças e jovens na sala adjacente, e por vezes a voz do conferencista tem de ser mais alta na sala maior dos estudos dirigidos aos adultos.

Ivonete carinhosamente menciona: “Esses são nossos passarinhos, felizes e cantantes, alegres e cheios de energia”, que temos a alegria de estarem seus pais frequentando nossa Casa.

Onde há criança que recebe a atenção dos adultos, as bênçãos de Jesus aqui estão para todos, pois Jesus via na criança a pureza da alma, a pureza dos Espíritos milenares.

Fazendo um paralelo com os jovens das escolas britânicas, onde a grande maioria, sem religião, precisaria ter uma estrada pavimentada de luz pelos ensinos morais do Cristo, que são ensinos do Universo, e os nossos jovens que atendem aos estudos espíritas semanais na Casa Espírita e o benefício que recebem, fico aqui pensando em como um dia isso poderia acontecer, ou seja, levar Jesus às escolas do Reino Unido, do Brasil e do mundo, para ajudar na mudança de entendimento sobre a vida e alimentar as almas com o respeito, a atenção, a caridade, como ensina Jesus.

Até que um dia isso possa vir a acontecer, vamos ter ônibus superlotados e motoristas maternais, que, sem o saberem, estão fazendo o que Jesus faria – educar pelo exemplo. Falar com amor e respeito, a ação é rápida e imediata e não perde tempo, onde quer que estejamos, seja aqui, seja no Brasil ou em qualquer terra de além-mar.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.



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