O amor vencerá

“...Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o vosso espírito. Eis aí o maior e o e o primeiro mandamento. Eis o segundo, que é semelhante a este: Amareis vosso próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos...”  (Mateus, cap. 22:34 a 40.)

No último dia 15 de outubro, dia dos professores, houve a lembrança saudosa do inesquecível Hugo Gonçalves, de Cambé. Pessoas assim precisam ser lembradas, pois o tempo passa e os mais jovens não o puderam conhecer. Nesse dia, houve a lembrança de 12 anos de sua desencarnação, em 2013, aos 100 anos de idade.

Hugo nasceu em Matão, São Paulo, em 6 de outubro de 1913 e com amor costumava falar da presença enérgica, inteligente e amorosa de Cairbar Schutel, por meio de cujas mãos ele veio ao mundo.

Foi o amado” paizinho” da cidade de Cambé. Por seu amor passaram mais de 400 meninas, que juntamente com sua esposa, Dulce Gonçalves, conduziram como pais, no Lar Infantil Marília Barbosa, na referida cidade do Paraná.

Era um prazer estar com o casal, particularmente com a figura de Hugo Gonçalves, o paizinho. Era autodidata. As pessoas hoje têm tanta facilidade para estudar e nem sempre aproveitam.

Lembramo-nos quando ele se reportava aos seus anos de infância. Seu primeiro presente foi aos 10 anos de idade, uma marreta de quebrar pedras. Seu pai tinha uma pedreira no sítio e ele e os irmãos quebravam as pedras que a prefeitura da cidade usava para calçar as ruas de lá.

Contou-nos ele que ficavam o dia inteiro trabalhando, dentro de um rio, que chegava na altura de sua cintura. Quando terminavam o trabalho, seus irmãos mais velhos iam para casa, tomavam banho, jantavam e iam dormir. Ele não. Antes disso, ia amansar os cavalos dos vizinhos. Ganhava o dinheiro de que necessitava para estudar por correspondência. Estudava com a luz de lamparina até de madrugada. Sua mãe, vez ou outra, por volta de duas ou três da manhã, batia na porta, pedindo-lhe que apagasse a lamparina e fosse dormir.

Era de berço espírita e desde cedo, com 12 anos, já tinha a intuição de que trabalharia com as crianças, tendo escrito uma prece, que intitulou “Minha Oração“ e que contém os seguintes dizeres:

“Jesus, educador da humanidade, que disseste: deixai que os pequeninos comigo venham ter... Ensina-me a ensinar o bem viver. Com palavras, exemplos e carinhos, dá que eu conduza ao porto desejado essas almas em flor. Que cada coração por mim tocado, tenha o perfume bom do rosmarinho onde esteja o teu divino amor. Que eu nunca seja pedra de tropeço. Que eu nunca escandalize uma criança. Que eu saiba respeitar seu coração. Dá-me esta força poderosa e mansa, este dom de educar que não tem preço, talento, esforço, amor e inspiração!”

Amava profundamente Jesus e suas palestras revelavam esse amor.

Aos 40 anos de idade, tornou- se o diretor do Lar Infantil Marília Barbosa e o paizinho amado das crianças e de toda a cidade de Cambé, que assim o chamava.

Sempre guardava pacotes de balas, no seu escritório, no Centro Espírita Allan Kardec. As crianças, quando saíam das escolas, passavam por ali e saíam com as mãos repletas de balas.

Muitas vezes presenciamos sua presença amorosa com as crianças do Lar Infantil. Suas meninas, enquanto moravam lá, ele as transformava com amor. Muitas chegavam ariscas, revoltadas, pela vida difícil, antes de serem conduzidas para lá. Ele as modificava e elas cresciam pessoas de bem.

Quando o lar, destituídos pelo governo federal no Brasil os lares infantis, tornou-se um centro educacional, já estava adiantado em anos. Um velhinho amado. Nessa ocasião, o lar se tornou misto, com meninas e meninos. Ele costumava descer do Centro Allan Kardec e ir até lá, para ficar com as crianças por algum tempo. Certa feita, com um sorriso cativante, feliz, aqueles abençoados cabelos brancos, ele nos contou que estava lá e um dos meninos, com 5 anos, lhe pediu: Vô, me dá um beijo na testa. Ele se abaixou para beijar a testa do menino e quando se levantou havia uma fila de mais de 60 crianças, querendo a mesma coisa dele! Teve que beijar um por um. Uma criança certa ocasião contou que o beijo dele na testa parecia um banho de luz, um passe. É o amor.

Uma vez, o centro estava repleto de pessoas que queriam estar ao lado dele e como éramos trabalhadores constantes da casa, mais antigos, cedíamos nossa vez para os que chegavam. Era difícil se aproximar dele, todos desejavam sua presença. Um dia, quando finalmente, após a reunião e os passes, ele ficou mais livre, aproximamo-nos dele. Não esquecemos isso, há anos e já comentamos aqui no jornal. Abraçamo-lo e dissemos que até que enfim sobrou um tempinho para nós, tantos desejavam estar com ele, que não conseguíamos. Ele respondeu com um sorriso cândido: que posso fazer, minha filha? Eu sou feito de mel!

Foi o grande articulador do Espiritismo no norte do Paraná, o fundador de nosso jornal “O Imortal”, que dirigiu até sua desencarnação.

Tinha uma mediunidade abençoada e a palavra certa, quando precisávamos.

Faz muita falta esse nosso paizinho de Cambé, amado por todos os que o conheceram.

Amava a música, o teatro, incentivava as artes, que floresciam no Allan Kardec quando estava encarnado.

Acreditava firmemente que o amor venceria na Terra e era um arauto dele. Amava Jesus e sempre que podia era Jesus o centro de suas lembranças.

Edificou a muitos.

Continua trabalhando servindo sempre, com amor.

Espíritos assim precisam ser lembrados, repetimos. A força de seu amor é cativante e inspiradora.

Um dia, se Deus o permitir, nós voltaremos a encontrá-lo, embora ele continue trabalhando na direção espiritual do Centro Espírita Allan Kardec e do Lar infantil.

Até lá, que façamos por merecer!



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