O presente de Cláudia

Cláudia estava bastante preocupada.

O Dia das Crianças estava chegando e ela pensava o que pediria de presente para seus pais. Voltando da escola para casa, Cláudia passou por uma loja e viu um lindo vestido na vitrine. Parecia feito para ela!

Chegando a casa, largou a mochila e correu para a cozinha onde a mãe estava terminando o almoço.

A menina estava indo muito mal em matemática, e a mãe sabia disso, lembrando-a que precisava estudar mais para melhorar sua nota. Então, Cláudia resolveu agir como sempre:

— Mamãe, se eu tirar nota boa na prova de matemática, você me dá um vestido como presente no Dia das Crianças? Agora, ao voltar para casa, vi um lindo numa loja! Deve ser caro, mas vale a pena!

Dona Marieta, que estava cansada das exigências da filha, respondeu:

— Vou pensar no assunto, Claudinha.

— Vai pensar? Pensar por quê, mamãe? Se eu me sair bem na prova tenho direito de pedir o vestido! Sempre foi assim!...

O pior é que era verdade. A mãe sabia que a filha tinha razão. 

Afinal, fora ela que acostumara mal sua filha, ainda pequena. Quando saía na rua, não voltava para casa sem trazer algum presentinho, balas, doces ou chocolates. A menina ia crescendo, e ela sempre dizia: — Claudinha, se você estudar, eu lhe dou um presente!

Assim, a garota acostumara-se a nada fazer sem receber algo em troca, fosse atender um pedido da mãe, tomar banho, fazer os deveres da escola ou estudar. Agora, já com onze anos, sentia-se no direito de exigir o que desejava.

Dona Marieta, intimamente reconhecia que agira errado e que teria de consertar o que fizera. Mas, como?...

Pensou bastante e orou a Jesus pedindo ajuda para saber que atitude tomar.

Como nenhuma ideia luminosa surgisse em sua mente, Dona Marieta entendeu que a responsabilidade era sua e que ela precisava enfrentar a verdade. 

Pensou bem e tomou uma decisão. No dia seguinte Dona Marieta não acordou a filha para ir à escola. Quando abriu os olhos e olhou no relógio, a garota viu que estava atrasada. Vestiu-se rapidamente e correu ao quarto da mãe, que ainda estava deitada.

— Mamãe, por que não me acordou hoje?

— Eu estava cansada. Além disso, você tem despertador e tem idade suficiente para acordar sem que eu a chame, minha filha.

Cláudia estranhou a resposta, mas, como estava com pressa, correu até a cozinha para tomar o café da manhã. Ao ver que a mesa não estava posta, voltou ao quarto da mãe.

— Mamãe, o que está acontecendo? Você não me chamou hoje e não preparou o café da manhã! Está doente?

Tranquilamente, a mãe respondeu:

— Não, minha filha. Estou muito bem. Apenas cansei de fazer tudo sem receber nada em troca.

— Como assim, mamãe? —  retrucou a menina, surpresa.

— É simples! Sempre que faz alguma coisa, você se acha o direito de cobrar, não é? Então, cansei de fazer tudo de graça.

— Mas você é a mãe, tem a obrigação de trabalhar!

— Eu não penso assim. Tudo o que tenho feito é com muito amor, sem esperar nada de ninguém. Mas, na verdade, somos três a morar nesta casa e creio que todos devem ter suas obrigações. Seu pai trabalha para manter a família. Eu cuido da casa, da limpeza, das roupas, da comida e faço as compras. E você?

— Eu vou à escola, ora essa!

— É verdade, minha filha. Mas sente-se no direito de cobrar por uma obrigação que é só sua! Estudar, tirar boas notas e ser aprovada no final do ano, é dever seu e de ninguém mais; assim como arrumar sua cama, guardar as roupas, recolher seus brinquedos etc.

Claudinha pensou bem, pela primeira vez analisando a situação como era realmente.

— Minha filha, todas as pessoas têm direitos e deveres, em partes iguais, e ficamos responsáveis por tudo o que fazemos de bom e de ruim. É lei da Natureza: colhemos o que plantamos. Então, depende de cada qual o que deseja colher no futuro. Entendeu?

— Entendi, mamãe. Quer dizer que não vou ganhar o vestido.

A mãe sorriu e esclareceu, compreensiva:

— Eu não disse isso, filha. A propósito, você sabe o que é “presente”?

— Claro que sei, mamãe! É algo que damos a alguém que amamos, com carinho, para agradar!

— Exatamente, filha. Então, não podemos exigir um “presente” a alguém. Quanto ao seu vestido, veremos. É  bastante caro e não sei se teremos condição de comprá-lo agora. Cumpra seus deveres e depois voltaremos a conversar sobre o assunto.

Desse dia em diante, a mãe não precisou mais chamar Cláudia para estudar nem para fazer as tarefas. Como resultado, as notas melhoraram, mas ainda estavam baixas.

Era véspera do Dia das Crianças. Desconsolada, intimamente a menina pensava que não iria ganhar o vestido que tanto desejava.

No dia seguinte, a mãe acordou-a cedo:

— Feliz Dia das Crianças, Claudinha! Levante-se, vamos fazer um passeio!

Encantada com a ideia, a garota levantou-se, rápido. O pai, a mãe e ela foram a um grande e belo parque, brincaram bastante, comeram sanduíche, pipocas, tomaram sorvete, passearam de trenzinho, de pedalinho e muito mais.

No final da tarde, quando retornaram, Cláudia estava feliz.

— Obrigada, mamãe e papai, pelo lindo dia! Não ganhei o vestido que tanto queria, mas não me importo, mesmo porque o dia foi ótimo!

— Está vendo, minha filha? Agora, não temos dinheiro para comprar aquele vestido, mas quem sabe no seu aniversário, que está próximo? Porém, uma coisa é certa: nossa felicidade não depende daquilo que temos, mas de como encaramos a vida.

A menina deu um grande abraço na mãezinha e concordou:

— Tem razão, mamãe. Mas não se preocupe. Recebi presente muito maior: este passeio lindo e o amor de vocês! Obrigada.


Meimei

(Página recebida por Célia X. de Camargo em 27/09/2010.)



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