A vida aos setenta

Minha mãe adotiva, amada, do coração, tinha um ditado que mencionava sempre para minha irmã e eu.  O melhor momento de todo evento é a véspera, é a espera.  Como sempre, eu questionava, e insistia que a felicidade está no evento em si, no dia do acontecimento esperado.

Contudo, com o passar dos anos, vejo que minha mãe (como sempre todas as mães) tinha razão.

Eis que, desde o ano passado, planejava passar o dia do aniversário dos meus 70 anos ao lado de filhas, filho e netos, amigos e agregados. Em não podendo ainda ter o sucesso da bicorporeidade, optei por pensar estar no Brasil, mas o plano da Divindade Maior, sempre sábia e soberanamente justa, fez com que eu experimentasse momentos maravilhosos dentro do país que optei por viver, por amor e gratidão, meu amado Reino Unido.

Gratidão talvez por aprendizados em existências passadas, que certamente aqui pude experienciar, e mais precisamente dentro da consciência da minha alma, pois sinto que já vivi na Escócia… Vivi muito simplesmente, muito duramente, experimentando o frio tenebroso do inverno nas terras altas escocesas, as famosas Highlands. 

Assim, no dia de meu aniversário, eu já tinha acertado com tempo muito adiantado a participação em um evento espírita para um grupo espírita na Espanha, em Vilhena, o qual, por conta de nosso momento atual, se faria na forma on-line... Que conforto poder sair de um país a outro, com um click em botões no computador! E o trabalho fica tão bom quanto, nada desmerece, só acresce em ganho de tempo, economia, ampliando os contatos com novos amigos e revisitando os conhecidos.  Nossa sala virtual aconchega centenas e milhares de corações afins, quando o tema a ser comentado é de interesse de muitos.

Assim aconteceu o meu fantástico dia 17 de maio.  Um dia especial. Fui agraciada com surpresa maravilhosa por mentes angelicais que me deram um lanche entre amigos queridos, poucos, por conta do “mantenha distância”, que agora não é mais só escrito nas rabeiras dos caminhões, e sim, a todo momento, em toda parte. Um lembrete que permanece em nossa mente, até nos sonhos, de um sono tranquilo, sonhando com a implosão da Covid-19, que ainda algema almas em dores sem entendimento.

O dia lindo, cheio de flores, muitos buquês, vasos com orquídeas, balões dourados com o Sete e o Zero, que permanece na minha janela da frente, visto que os amigos do condomínio que me conhecem sabem que completei as setentas voltas em torno do sol.  Alguns dizem não acreditar, pois me veem fazendo tanta coisa, pois nunca paro, nunca reclamo, e a disposição é minha companheira. Faça chuva ou sol, vento ou calor, tudo para mim se transforma em energia do amor.

Ah!  Sim! O amor é o combustível do Universo, o mais completo sentimento que nos eleva a paragens tão altas que não temos condições de ver nesta encarnação e talvez também não em uma centena mais… Mas sabemos que é possível, pois um exemplo máximo conosco esteve.

E Ele, com apenas 33 anos, partiu e nos deixou o legado do bem viver: Jesus. Viver de acordo com seus ensinamentos, pois aí teremos a chance de vislumbrarmos lampejos de felicidade que ainda não é deste mundo.

A prova de que ainda estamos engatinhando neste sentimento é que, no mesmo instante em que sentimos muita alegria, a notícia da partida de um amigo nos traz a dor na alma, a dor do sentimento de despedida.  Mas em seguida, se entendemos o processo da reencarnação, sabemos que a despedida, a separação, é momentânea... Mas não há como não experimentar o sofrimento que burila a alma, silenciar, orar, repensar valores e trabalhar pelo bem do próximo; enfim, nos amarmos, para que os setenta anos bem vividos nos fortaleçam a esperança de reencontrar amores e desde já preparar os planos para os próximos 10 anos, com muita esperança, seja no Brasil, seja aqui, seja em terras de além-mar.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.



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