A passagem é obrigatória, ninguém se isenta

E o dia amanhecera lindo, o sol sorridente e carinhoso, tocando a nossa pele, como um algodão macio e aconchegante.  Só a paisagem iluminada pelos raios do sol, que fugiam por detrás do prédio da frente ao meu, já me dava o panorama geral do que seria após mais 15 minutos observando a natureza.  Preparava-me para sair ao encontro do velório e funeral do meu cunhado, que partira na tarde anterior, com sua sabedoria construída em 101 anos de existência.

O visual frente a mim me dava o ensejo de orar. Terminei o café gostoso, que ajuda a despertar os neurônios, e me pus a orar. Descortinam-se na tela da memória fraterna de minha alma os meus amores que já tinham atravessado seguros na barca de Caronte para a outra margem do rio da VIDA, da existência física para a existência espiritual, a verdadeira estação entre as reencarnações.

Pensei comigo mesma durante a prece: - Que bênção poder entender que ninguém morre, que a separação obrigatória é necessária, para o assentamento e confirmação da grande família espiritual que todos vamos construindo.  Nós aqui, que ficamos no corpo físico, ainda no plano material, só temos a afeição pelos que com quem convivemos, família, amigos, agregados.  Os que partem já têm o panorama visual mais amplo, sendo recebido pelos familiares formados na família espiritual, os imediatos e os remotos, diante da conquista dos milênios incontáveis, desde nossa primeira encarnação.

Fico ainda pensando na grandeza de se buscar os ensinos e esclarecimentos dentro da Doutrina Espírita, ou Espiritismo, que nos oferece um leque pedagógico do conhecimento da verdadeira vida. Gratuitamente temos essa faculdade da alma, basta que tenhamos interesse e visão aberta para enxergar mais longe o horizonte que não é limitado.

Passados os 20 minutos em meditação, pensamentos e prece, eis que o sol aquece diretamente meu rosto, nesta varanda do primeiro andar do meu “little palace”, que é como denomino meu apartamento, mesmo pequenino, mas de onde sai muita coisa boa e em que as paredes, o teto e o chão são sempre regados com a boa energia espiritual, para que o ambiente fortalecido pelas orações diárias, pelo Evangelho ou Culto no Lar semanal, ofereça o acolhimento aos espíritos necessitados, encarnados ou desencarnados, que precisam de uma oração ou uma palavra de conforto.

A conquista da paz no lar depende de cada um de nós, de nosso interesse, de nosso esforço, de nossa escolha ou livre-arbítrio. Tem de ser, naturalmente, a prece do coração, a conversa com a divindade.

Assim, ainda me vejo naquele amanhecer lindo, me preparando para ir ao Cemitério Parque Iguaçu, aqui em Curitiba, onde somente pequenas placas de bronze no chão mostram o cofre dentro da terra, abrigando o “jumentinho”, como dizia nosso amado Chico Xavier. O verde a perder de vista, como um lindo campo de golfe, as cerejeiras em flor, nesta época do ano, no sul do Brasil, traziam uma paz na alma, entre as poucas lágrimas derramadas, lágrimas de gratidão por ter tido a oportunidade de estar com todos, em abraços fraternos e retomada das amizades na família.

Fica o registro filosófico e religioso de que todos nós passaremos por essa fatalidade, de deixar familiares, sem sabermos quando será, mas que com certeza irá acontecer, cedo ou tarde, seja aqui no Brasil, seja em terras de além-mar.

Elsa Rossi, depois de viver por 25 anos no Reino Unido, onde presidiu por 12 anos a federativa espírita britânica, reside na cidade de Curitiba, Paraná.



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