Comece pelo começo...

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, diretor e presidente do Centro Espírita João Moreira, em Capivari (SP), sua cidade natal, é também fundador do Centro Espírita Mensagem de Esperança e da Editora EME, que completou em março deste ano  40 anos de fundação. Como bancário, trabalhou em diversas cidades do estado de São Paulo. É técnico em contabilidade, pela Escola Técnica de Contabilidade de Capivari; Bacharel em Administração de Empresa pelo CNEC de Capivari; Bacharel em Direito pela UNIMEP de Piracicaba (SP); e possui especialização em Dependência Química pela Universidade de São Paulo (USP-SP-Grea).

Em entrevista concedida, de forma muito solícita, Arnaldo destaca que o Espiritismo é sim uma religião, mas no sentido de religar a criatura ao Criador, sem personalismo, sem hierarquia, sem sincretismo, sem dogmas e ainda reforça que não é sensato e nem sábio colocarmos data para se alcançar o estágio espiritual da regeneração, nem afirmar que espíritos já estão sendo retirados e muitos não irão mais reencarnar na Terra.

Em que momento ocorreu seu primeiro contato com a Doutrina Espírita?

Em 1974, depois de ingressar por concurso no Banespa (Banco do Estado de São Paulo S/A).

Houve algum acontecimento especial que propiciou sua integração no trabalho espírita?

Lendo o livro Deus Negro, de Neimar de Barros, diretor do programa do Silvio Santos. O editor desse livro, no prefácio, dizia que o livro deveria ser mediúnico, porque o autor confessa que as ideias vieram naturalmente sem que lhe exigisse tanto esforço, e rapidamente. Fui verificar o que era “mediúnico”, “psicografia” etc. Além disso, na segunda agência bancária em que fui trabalhar, fui colocado com um supervisor que era médium e espírita, que tinha vindo do Estado do Paraná, senhor Paulo de Souza.

Qual a reação de sua família ante sua adesão à Doutrina?

Foi tranquila. Minha mãe era católica, e anteriormente eu participara da igreja, inclusive cantei no coral. Meu pai estava na Congregação Cristã do Brasil, mas tinha frequentado um centro espírita, antes, inclusive manifestava um espírito neste centro que se chamava Arnaldo Divino, e quando eu nasci meu pai escolheu esse nome para mim. Mas, no Cartório, o responsável sugeriu que “um bebê tão bonito” deveria se chamar Arnaldo Divo, e meu pai aceitou. De certa feita meu pai me contou que, indo para casa do centro para o bairro onde residia, sentiu a presença de alguém que o acompanhava, e passou a noite com frio e dor na perna. E só se livrou quando voltou ao centro e o espírito foi atendido e esclarecido.

Dos três aspectos do Espiritismo - científico, filosófico e religioso -, qual é o que mais o atrai?

Na verdade, todos os aspectos, porque participo e frequento as reuniões e sessões espíritas, trabalho com a parte filosófica na edição de livros, que também tratam da parte científica do conhecimento do Espiritismo; nessas obras, temos como autores professores, advogados, juízes e médicos, que trazem esse complemento da ciência para interpretação dos fenômenos e das leis que nos regulam a vida e o destino.

Que livros espíritas que tenha lido você considera indispensáveis aos irmãos que estão iniciando sua jornada?

Que comece pelo começo, pelas obras de Allan Kardec, principalmente O Livro dos Espíritos, O Evangelho segundo o Espiritismo e o Céu e o Inferno. Com relação às revelações da vida espiritual, é fundamental ler as obras de André Luiz e os comentários evangélicos interpretados por Emmanuel, mas principalmente aquelas obras que se relacionam com Kardec, Religião dos Espíritos, Justiça Divina etc. Para muitos que buscam o consolo diante do retorno à vida espiritual de ente queridos, recomendo Correio do Além, de Emmanuel e espíritos diversos, e Na maior das perdas – a divina consolação, do professor Regis de Morais, o primeiro em parceria entre a Editora CEU e a EME, e o segundo da Editora EME.

As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao Espiritismo laico. Para você o Espiritismo é religião?

Sim, o Espiritismo se compõe desta trilogia: ciência, filosofia e religião, mas, no sentido de religar a criatura ao Criador, sem personalismo, sem hierarquia, sem sincretismo, sem dogmas, sem rituais de batismo ou casamento, mas sim contemplando todos os eventos naturais e familiares como simples união de sentimentos em torno da oração.

Como você vê a discussão em torno do aborto?

Ainda é pouquíssimo esclarecida a questão da reencarnação e dos meios para se evitar a fecundação. A sexualidade, bem como o uso de álcool, tabaco e drogas, deve ser discutida em sala de aula, com o trabalho de prevenção pelas Secretarias da Educação e da Saúde, e no lar, no diálogo dos pais com os filhos.

O movimento espírita em nosso País lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina Espírita?

Ainda temos muito que avançar neste aspecto de união pela divulgação, pois vemos muitos movimentos isolados. E como o princípio da doutrina não é por cobrança, mas sim de dar de graça o que de graça recebeu, sempre temos dificuldade de manter um jornal, uma revista, uma rádio, uma televisão, que já teve começo, porém, ainda é estagnada nas regiões de pequeno alcance.

A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Sinceramente, não é sensato nem sábio colocarmos data para se alcançar este estágio espiritual, nem afirmar que espíritos já estão sendo retirados e muitos não irão mais reencarnar na Terra. Essas fases envolvem milênios; não são tão simples que alguns séculos consigam produzir o milagre de transformar os indivíduos sem que dentro de seu livre-arbítrio eles queiram se transformar. E Allan Kardec diz que a mudança somente ocorrerá pela educação.

Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Creio que seja de incrementar os esforços para unir e divulgar os princípios espíritas através dos meios de comunicação, jornais, revistas, livros, rádio, internet, televisão e novas formas que vão surgindo. A prioridade é a nossa própria transformação. Cada dia que me deito para dormir e faço minhas meditações, penso na distância que estamos das almas superiores, e meus sonhos demonstram que nem sempre vivo bem, ainda. Temos que ser melhores criaturas a começar de agora, ser mais irmãos dos nossos irmãos, mais amigos dos nossos amigos, mais tolerantes para com aqueles que não nos compreendem, e mais fraternos para com todos.

A pandemia que o mundo enfrentou desde o início de 2020 alterou drasticamente o funcionamento das Casas Espíritas e inspirou a ampliação de muitas atividades on-line. Como você vê o retorno da Casa Espírita e seu funcionamento a partir do momento em que a Covid esteja inteiramente superada?

Essa pandemia trouxe grandes avanços na divulgação do Espiritismo pelos meios de comunicação que se aperfeiçoaram, permitindo que as pessoas, em seus lares, pudessem acompanhar as palestras, encontros, conferências com vários participantes, sem se deslocar do seu lar, da sua cidade e de seu estado. Muito bom. Deve-se dinamizar para aqueles que não conseguiam acessar esses conteúdos e eventos. O mundo pede essa atividade moderna. Por outro lado, a pandemia afetou muitos lares com a desencarnação ou com as consequências físicas do vírus, atingindo também as empresas e o comércio. Em função da necessidade de preservação da saúde, com isolamento e distanciamento, muitos centros ainda não retomaram as atividades, afetando muito a sua manutenção, com as despesas dela advindas, especialmente os grandes grupos. A participação na casa espírita promovia a comercialização do livro, o fomento do clube do livro e também o uso da biblioteca para difundir a leitura. Como a maior parcela dos frequentadores dos centros é constituída de adultos e idosos, percebe-se uma insegurança, refletida na menor frequência nas reuniões, o que deve se normalizar com o tempo. Para nós que somos editores essa crise foi devastadora, com a não frequência aos centros, porque as vendas on-line e mesmo de e-books são diminutas e não cobrem os custos e investimentos que realizamos para as edições. Acreditamos que tudo voltará melhor, porque aprendemos um pouco mais sobre a vida e as formas de nosso aprimoramento espiritual.



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