Eu sei que nada sei, ainda, mas é sempre tempo

Quase ao final de dezembro de 2018, resolvi comprar algumas obras que não tinham até então me chamado a atenção, devido à crescente pilha de livros para ler... Pra que comprar mais, se ainda não li os que já comprei nestes dois últimos anos? – pensei. Mas...

Lembrei-me do livro que eu adquirira em maio, quando visitei a USE em São Paulo. E agreguei outros ao mesmo tipo de leitura, sem abri-los. Disponível na internet, tantas pesquisas sobre a história de Kardec, história de Amélie Boudet etc.  Estes livros que comprei selecionadamente relatam histórias e pesquisas árduas de algumas pessoas dedicadas... e comecei a lê-los. 

Pouco antes do final do ano, eu havia recebido de amigos o link da internet de um livro gratuito em PDF, que em poucos dias devorei avidamente ao baixar o arquivo em meu iPad. O título em português “Muita Luz” – o título do original francês é “Beaucoup de Lumiére”, de autoria de Berthe Fropo.  Berthe era amiga de longa data do casal Amélie e Kardec, e permaneceu ao lado de Amélie por toda a sua vida, em tarefas espíritas, apoiando a sequência de publicações das obras de Allan Kardec.

Após ler Beaucoup de Lumiére, li em poucos dias o “Madame Kardec – a história que o tempo apagou”, autoria do pesquisador Adriano Calsone. Oh! Meu Deus... Chorei junto com Amélie, senti a dor da partida de Kardec, senti sua tristeza ao praticamente ser deixada de lado, ignorada por espíritas da Sociedade que ela, Kardec e outros verdadeiros espíritas haviam fundado... Quanta decepção, na sua quase octogenária idade nesta reencarnação! Quanta determinação!

Ao terminar a leitura, fiquei-me perguntando... Por que tantos anos dentro da Casa Espírita e essas informações esclarecedoras, corretas e valiosíssimas nunca me chegaram às mãos? Por alguma razão tudo tem sua hora.

Estou lendo neste momento, com muita alegria, emoção, sentindo as lágrimas derramarem-se pela minha face, muitas e muitas vezes. A autora, pesquisadora conferencista, trabalhadora espírita, Simoni Privato Goidanich. O livro foi publicado em português pela USE-SP, com o título “O Legado de Allan Kardec”, traduzido do original em espanhol publicado pela Federacion Espiritista Argentina, “El Legado de Allan Kardec”.

Penso que todo espírita, ou aspirante a ser, deveria conhecer a história, como desejamos conhecer a parte doutrinária.  Duas asas do verdadeiro estudante dos ensinos espíritas.  Conhecendo as raízes, o que fizeram os verdadeiros pioneiros, o trabalho, o esforço para saírem as obras, em pleno clima de guerra franco-prussiana; os desvios e inserções documentados; os esforços em manter o Espiritismo tal qual foi passado a Kardec pelos Espíritos luminares; as adulterações em obras com o nome do Mestre, comprovadas com documentos e mais documentos fotocopiados no livro, assim trazendo luz às nossas mentes.

Essa pesquisa aprofundada se soma a muitas outras que merecem nossa atenção, pois Kardec sempre esclareceu que devemos conhecer tudo, ler obras outras e montarmos o nosso raciocínio, dentro do necessário bom senso.

Assim que eu terminar “O Legado de Allan Kardec”, já está sobre a mesa o livro “Em nome de Kardec”, de autoria de Adriano Calsone, da Vivaluz Editora.  Fico feliz por conseguir dar conta das atividades que se multiplicam, pois a vontade é ficar somente lendo e lendo e aprendendo e raciocinando e tirando as devidas conclusões, e sentindo a bondade espiritual ao lado, nos fortalecendo.

Consegui entender o florescimento do ensino espírita no Brasil; consegui entender por que quase ele se apagou na Europa; as duas grandes guerras, o sofrimento e perseguição dos espíritas por religiosos, delatando-os como comunistas para o governo. Eram fuzilados sem pestanejar.  Assuntos que, ao ler os livros, me fizeram sentir parte da história... Lembrei-me do meu contato em Esperanto com Vlado Sladecek, da República Tcheca, que fora preso junto com sua esposa. Ela morreu na prisão, não aguentando as torturas, ele sobreviveu... E tudo isso porque eram espíritas. Mas esse caso, eu relatarei em crônica futura, pois tenho as correspondências deste “old friend, correspondente em Esperanto”.

Pergunto-me se esse amor pelo Espiritismo, esse senso de eterna responsabilidade com o movimento espírita, não seja talvez, um “pezinho” lá atrás na época do Cristianismo nascente e também do Espiritismo nascente... 

Dirão os leitores espíritas: É provável, pois somos reencarnacionistas e para nós a lei de causa e efeito é similar à roda de Sansara, do dharma e do karma, seja onde for que estejamos, aqui ou nas terras de além-mar. ___________________________________________________________________________

Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional (CEI) e coordenadora da BUSS-British Union of Spiritist Societies.



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